Sedentarismo, tabagismo, alto consumo de álcool, doenças crônicas e tantos outros fatores são reconhecidamente fatores que interferem na expectativa de vida da população. Devido a isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou um Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), onde são listadas doenças não contagiosas que devem ser combatidas até 2025. E, apesar de a desigualdade social ter um grande impacto na saúde, ela não aparece entre as metas.
De acordo com o artigo “The health of people who live in slums” (tradução livre), publicado pela revista científica The Lancet, a estimativa é de que quase 1 bilhão de pessoas morem em favelas. Além disso, constatou-se que, entre os adultos de 40 a 85 anos, o baixo nível socioeconômico é capaz de reduzir a expectativa de vida em até dois anos, enquanto fatores como a obesidade e a hipertensão infligem um dano menor ao índice — encurtamento de 0,7 e 1,6 ano respectivamente.
Defendido por instituições de prestígio acadêmico como a Escola de Saúde Pública de Harvard e o Imperial College de Londres, o estudo argumenta que, da mesma forma que vemos campanhas para incentivar o abandono do hábito de fumar ou o aumento de práticas esportivas entre a população, é necessário criar estratégias que combatam a desigualdade social em todas as camadas da sociedade.
De acordo com o livro Um país chamado favela, da Central Única das Favelas (CUFA) e do Instituto de Pesquisa Data Favela, o Brasil possui 12 milhões de pessoas vivendo em periferias. Assim como a população com faixa de renda mais estável, os habitantes das favelas também estão expostos a todos os fatores regulares que levam a uma possível redução na expectativa de vida, além das diversas complicações já inerentes da desigualdade social. Portanto, esses indivíduos sofrem com o dobro de riscos à saúde.
Consequências da desinformação nas periferias
Os moradores de favelas são frequentemente acometidos por casos de câncer, diabetes e hipertensão. Entretanto, existe um fator que agrava mais ainda a situação desses habitantes: a desinformação. Poucos materiais sobre a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis chegam a essa camada da população. Além de demonstrar um descaso quanto às condições de saúde dos moradores da periferia, isso faz com que ocorra uma demora do diagnóstico desse tipo de doença, reduzindo a eficácia dos tratamentos.
Além disso, o acesso a medicamentos e médicos é muito escasso. E, por mais que o Governo brasileiro ainda ofereça serviços como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Farmácia Popular, alguns tratamentos necessitam de atenção especial e um orçamento maior das famílias, que não conseguem arcar com os custos por viverem em estado de pobreza.
Outro caso de grande risco é a propagação de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) como o HIV, que poderia ser combatido através da educação sexual da população periférica. Pela falta de informação sobre o uso de preservativos e outros métodos contraceptivos, as favelas — costumeiramente ambientes com superlotação e população jovem — se transformam em locais com alto índice de contaminação de DSTs.
Nutrição e violência nas periferias
Além disso, a população periférica costuma sofrer frequentemente por quadros de subnutrição. Isso ocorre devido à falta de recursos para manter uma dieta balanceada e saudável. Consequentemente, os moradores da periferia tornam-se mais vulneráveis a infecções e doenças, situação que atinge principalmente as crianças e os jovens, que costumam ser diagnosticados com casos de diarreia e pneumonia.
A desigualdade social também faz com que muitos jovens percam suas vidas para a violência urbana. Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Atlas da Violência apontou, em 2017, que pessoas de 15 a 29 anos eram os maiores alvos de homicídio no Brasil.
Diante disso, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, aborda justamente a redução de desigualdades. Entre as medidas apontadas como essenciais para a mudança de panorama nas periferias estão as políticas públicas de inclusão social, política e econômica da população de baixa renda. A ONU espera alcançar um progresso significativo nesse setor até 2030.
Fontes: The Lancet, ONU, Ipea.