O excesso de cesáreas nos hospitais vem levantando discussões dentro da comunidade médica internacional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o procedimento, que anteriormente era utilizado apenas para evitar riscos, cresceu consideravelmente nos últimos 20 anos e tem sido executado em situações desnecessárias.
O que mais chama a atenção nesse momento é que, apesar de ser uma técnica criada para resolver maiores complicações na sala de parto, a quantidade de cesarianas efetuadas é muito maior do que o recomendado nos hospitais brasileiros.
No ranking de países que mais realizam partos cirúrgicos, o Brasil ficou em segundo lugar, com uma taxa de 55% de cesáreas. Na pesquisa, o País fica atrás apenas da República Dominicana. Ambos apresentam uma porcentagem de cesáreas superior ao índice médio apontado pela OMS (10% a 15%) dos casos em que uma intervenção médica é realmente necessária. Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), em 2016 alguns estados do Brasil ultrapassaram a marca de 60% de cesáreas em seus partos — Goiás, Rondônia, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta que, em algumas regiões do mundo, o índice de partos cirúrgicos chega a 84% nas redes particulares de saúde. E a epidemia de cesáreas se tornou um fator de risco para a saúde das mulheres. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina no Brasil, em cada mil casos não complicados, 20,6 mulheres morrem por problemas em uma cesariana; em partos normais, esse número cai para 1,73.
Complicações da cesárea
De acordo com um estudo realizado pela Escola de Medicina da Universidade de Harvard, pessoas nascidas de partos cirúrgicos costumam sofrer mais com alergias, infecções, casos de asma e excesso de peso. Isso tudo pela falta de contato com as “bactérias boas”, transmitidas pelo fluido vaginal do parto normal.
Pensando no bem-estar das mulheres, os chamados partos humanizados são opções para que o número de cesáreas desnecessárias diminua no País. Em um parto desse tipo, algumas medidas simples são adotadas para oferecer mais conforto às pacientes, como o direito de ter um acompanhante de sua escolha e métodos naturais para aliviar as dores. Banho quente, alongamentos e massagens são alternativas para criar melhores condições durante o parto e substituir os anestésicos utilizados em cirurgias.
Visando reduzir o número de cesarianas pelo mundo, a OMS recomenda sessões psicoeducacionais e de treinamento de gestação para atenuar a ansiedade de mães e casais antes do nascimento do bebê. Ter uma segunda opinião médica sobre a necessidade ou não da intervenção cirúrgica no parto é um grande passo para que mudanças ocorram no sistema de saúde.
Garantia de segurança em partos normais
Para que o índice de cesáreas diminua nos próximos anos, os partos normais devem oferecer maiores garantias de segurança para as mulheres. Um dos grandes fatores que levam as futuras mães a optarem pelos procedimentos cirúrgicos é a menor incidência de casos de violência obstétrica durante cesarianas. A violência obstétrica se caracteriza por situações em que as mulheres sofrem algum tipo de abuso físico ou psicológico.
A opinião e os desejos de uma gestante têm que ser postos em primeiro lugar na hora de planejar um parto. Portanto, a capacitação dos profissionais que atuam com partos naturais é um caminho importante para que as mulheres se sintam mais confortáveis durante todo o processo. Além do mais, o treinamento ajuda a reduzir os riscos de falha comportamental por parte da equipe médica e, consequentemente, os casos de violência obstétrica.
Fontes: Ministério da Saúde, Agência Senado, BBC, Febrasgo, OMS.