De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), cerca de 1,9% da população tem o Registro Nacional de Doadores de Sangue no Brasil. Os dados, apesar de estarem dentro dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), não são suficientes para abastecer as necessidades da área no País.
Segundo o Hemocentro de São José do Rio Preto, há diferentes validades que devem ser observadas em uma mesma amostra de sangue doada. As concentrações de hemácia, por exemplo, podem durar até 35 dias, mas as plaquetas sobrevivem por, no máximo, 5 dias; já o plasma pode ser armazenado por um ano a dois anos.
Devido a isso, os hemocentros são recomendados a trabalhar com margens de folga, sendo considerada uma atitude arriscada manter os níveis dos estoques próximos das datas limite para utilização. Isso ocorre principalmente quando há baixo engajamento da população em realizar doações recorrentes.
Como conscientizar a população?
Pensando em modificar esse cenário, frequentemente o MS promove campanhas para aumentar o número de doadores e, aos poucos, resolver a falta da variedade de tipos sanguíneos.
Na opinião de Flávio Vormittag, coordenador da área de Sangue e Hemoderivados do MS. em uma entrevista concedida ao site oficial do Ministério, “o sangue é insubstituível. Ainda não existe nenhum tipo de medicamento que possa substituir a doação de sangue. E quem precisa só consegue graças à generosidade de quem doa. O importante é doar regularmente, pois em períodos de férias e seca a tendência é diminuírem os estoques. Vale lembrar que uma doação pode beneficiar até quatro pessoas”.
São comuns, por exemplos, doações de sangue em casos de reposição para amigos ou parentes internados em hospitais. Isso significa que o ato de doar, em si, não é difícil para os brasileiros, mas realizá-lo com frequência sem saber a quem será destinado ainda não é praticado pela população de modo geral. Outra questão a ser discutida é o estigma envolvendo mitos e preconceitos do ato.
Para reagir a todos esses efeitos, a conscientização deve ser feita desde cedo, começando nas escolas e continuando com políticas públicas. Diferentemente de alguns dos países com altas taxas de doadores, como Estados Unidos e Japão, o Brasil não enfrentou uma grande guerra, o que nos tira a herança cultural de doar naturalmente.
Quem pode doar?
Segundo o MS, no Brasil a doação é permitida apenas para indivíduos com idade entre 16 anos e 69 anos. Jovens com menos de 18 anos devem pedir permissão aos responsáveis caso tenham interesse em doar. Outros requisitos padrão são pesar pelo menos 50 quilos e evitar o consumo de bebidas alcoólicas 12 horas antes da doação. Também existem alguns impedimentos temporários, como gripes e resfriados, por isso é essencial estar atento às recomendações disponíveis em todos os hemocentros do País.
Mudanças estruturais
Porém, a responsabilidade não se concentra apenas nas mãos da população; também há mudanças estruturais a serem feitas. Especialistas de diferentes hemocentros afirmam que há problemas de financiamento que impedem a criação de novas soluções práticas, como agências transfusionais para gerenciar os estoques e aprimorar a comunicação entre centros e hospitais, como já defendeu o diretor do Hemocentro de Ribeirão Preto, Dimas Tadeu Covas, em uma publicação no site do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Outra proposta é criar unidades móveis que vão até os doadores — no Hemorio, há duas. Alterações como essas podem fazer a diferença para os bancos de sangue e para milhões de pacientes em todo o País.
Fontes: BBC, Ministério da Saúde, Conselho Federal de Medicina (CFM), Hemocentro SJRP.