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Câncer: como reprogramar células para combater a doença?

Considerada um método revolucionário de combate ao câncer, a terapia com células CAR-T Cell tem apresentado bons resultados para alguns subtipos de câncer, como leucemia e linfoma. A técnica altera linfócitos T, células que compõem o sistema imunológico do paciente, habilitando-as para atacar o tumor. Para isso, as células são retiradas do paciente em coleta de sangue, reprogramadas, multiplicadas e então reinseridas.

Estudo de pesquisadores da USP desenvolveu nova técnica para reprogramação de células. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Porém, há alguns problemas nesse processo: além de comumente demorar entre duas semanas e três semanas, pode não haver células em qualidade ou quantidade suficiente para a utilização. Em uma pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, foi desenvolvido um método capaz de contornar tais obstáculos. Fruto do projeto de mestrado da estudante Sarah Caroline Gomes de Lima, o trabalho foi premiado no Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular de 2022.

Como funciona o novo método?

Normalmente, células de defesa do paciente são utilizadas para a produção de células CAR-T Cell. Nesse método, os pesquisadores optaram por utilizar células de doadores não aparentados, modificadas para que não haja rejeição. Tal alteração acontece por meio de uma técnica de edição gênica chamada CRISPR/Cas9, que funciona como uma tesoura que corta partes do DNA determinadas pelos pesquisadores. Assim, áreas associadas à rejeição são removidas das células.

Esses cortes são utilizados para uma segunda modificação, na qual é inserido o gene codificador da proteína específica (um receptor de antígeno quimérico, ou CAR). Assim, o linfócito T passa a expressar receptores que reconhecem as células tumorais do paciente, constituindo as células CAR-T Cell que, multiplicadas e reinseridas no organismo, trabalham para destruir o tumor.

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O que é CRISPR/Cas9?

O CRISPR/Cas9 é um sistema de edição gênica que usa uma molécula de RNA sintetizada e direciona a enzima Cas9 para locais específicos, nos quais atua como uma “tesoura genética” para fazer cortes no DNA. Isso possibilita a alteração de genes para eliminar as funções, como no caso das moléculas associadas à rejeição, bem como o acréscimo de fragmentos para corrigir ou inserir novos genes, tal qual o codificador CAR.

Método utiliza espécie de tesoura genética para alterar DNA e impedir a rejeição das células. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A técnica vem promovendo avanços em diversas áreas, tanto que o desenvolvimento levou a francesa Emmanuelle Charpentier e a estadunidense Jennifer Doudna a vencer o Prêmio Nobel de Química de 2020.

No caso das células CAR-T Cell, o CRISPR/Cas9 pode permitir maior agilidade, menos obstáculos e menores custos para o processo. No combate ao câncer, também há estudos que investigam o uso da técnica para remover mutações dos genes que levam as células a se multiplicar de modo desenfreado, eventualmente resultando na doença.

Fonte: Scielo, Revista Pesquisa Fapesp, Reuters

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