O principal obstáculo para curar a infecção causada pelo HIV é um reservatório latente do vírus nas células responsáveis por orquestrar a resposta imune do organismo, o que permite que a enfermidade persista de forma que não seja detectada pelo sistema imunológico ou afetada por drogas antirretrovirais. A descoberta foi realizada pelo Dr. Robert F. Siliciano, professor de Medicina da Universidade Johns Hopkins, e colaboradores na Universidade da Califórnia, em São Francisco, e do Howard Hughes Medical Institute, em Baltimore.
De todas as barreiras contra a cura do HIV, nenhuma representa um dilema tão difícil quanto a latência, uma fase inativa na qual os provírus estão essencialmente à espera, mas permanecem capazes de reativação — um provírus é um vírus inativo hospedado por uma célula. No caso do HIV, as células que fornecem um refúgio seguro para os vírus são as várias subpopulações de células T CD4+, membros-chave do sistema imunológico.
Na fase latente, os provírus evitam a vigilância pelo sistema imunológico e escapam da aniquilação por medicamentos antirretrovirais. Só esses dois fatores fizeram do HIV um quebra-cabeça extraordinário a ser resolvido. A equipe do Dr. Siliciano enfatiza que a terapia antirretroviral pode efetivamente bloquear a replicação do HIV em pacientes infectados e prevenir ou reverter a imunodeficiência entre aqueles que tomam regularmente os medicamentos. Mas a replicação viral é retomada poucas semanas após a interrupção do tratamento, e o bombardeio do corpo pelo vírus que se replica surge dos patógenos adormecidos que se reativam para perpetuar a infecção.
O trabalho intitulado “Diferentes subconjuntos de células T CD4 + com memória de repouso humana mostram baixa indutibilidade semelhante dos vírus virais do HIV-1” foi publicado na Science Translational Medicine, uma publicação da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Estratégias de cura
Em 1995, o laboratório do Dr. Siliciano forneceu a primeira demonstração de que células CD4+T infectadas latentemente estavam presentes em pacientes com infecção pelo HIV-1. Mais tarde, a equipe descobriu que essas células persistem indefinidamente, mesmo em pacientes em terapia antiviral prolongada. Os estudos indicaram que a erradicação da infecção pelo HIV-1 apenas com o uso de antivirais nunca seria possível.
Trabalhos recentes mostraram que a proliferação de células T CD4+ infectadas com HIV-1 é um fator importante na geração e persistência do reservatório latente. Uma estratégia de cura envolve a indução da expressão do gene viral, para que as células T infectadas latentemente possam ser eliminadas. Foi sugerido que o HIV-1 latente poderia ser enriquecido em subpopulações específicas de células T CD4+, o que permitiria um direcionamento mais específico de medicamentos que revertem a latência.
Para avaliar essa possibilidade, os pesquisadores realizaram um ensaio de crescimento viral de estimulação múltipla para cultura de células ingênuas em repouso, memória central (TCM), memória de transição (TTM) e memória efetiva (TEM) de dez indivíduos infectados pelo HIV-1 em terapia antirretroviral.
Em média, apenas 1,7% dos provírus intactos em todos os subconjuntos de células T foi induzido a transcrever genes virais e liberar vírus competentes para replicação após estimulação das células. O estudo relatou que, surpreendentemente, não houve enriquecimento preferencial ou diferenças na indutibilidade da expressão gênica viral entre células T CD4+ ingênuas e três subconjuntos diferentes de células T CD4+ de memória de dez indivíduos infectados pelo HIV em terapia antirretroviral.
Os cientistas observaram uma plasticidade notável entre os subconjuntos de células T da memória canônica após a ativação in vitro e uma variabilidade substancial de pessoa para pessoa na indutibilidade da liberação de vírus infeccioso. Essa descoberta complica a abordagem direcionada para a cura do HIV-1 com base em subconjuntos de memória de células T.
Pandemia de HIV
Desde o início da pandemia de HIV/AIDS no início dos anos 1980, estima-se que 75 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus e aproximadamente 32 milhões morreram, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os medicamentos antirretrovirais podem controlar a infecção, mas não são curas, devido ao poderoso fenômeno da latência viral.
Nos últimos 40 anos, a contaminação por HIV/AIDS tem sido uma grande preocupação de saúde pública. A infecção é causada por um retrovírus, um patógeno de RNA que possui uma enzima (transcriptase reversa) que permite exclusivamente a transcrição do RNA viral no DNA ao entrar nas células do hospedeiro. O DNA do HIV pode então se insinuar no DNA cromossômico do hospedeiro, onde os genes virais são expressos.
Fontes: Medical Express, Hopkins Medicine, Science Mag, News Break.