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Como os planos de saúde foram afetados pela pandemia?

No início da pandemia, o cenário era de extrema incerteza para os planos de saúde. As operadoras estavam preocupadas com um possível aumento de procedimentos e os custos de operação gerados pela situação de emergência, o que poderia causar um tsunami de prejuízos no sistema de saúde suplementar. Felizmente, essa perspectiva não se confirmou, mas o setor foi profundamente afetado pela crise sanitária.

Os impactos do coronavírus nos planos de saúde e as perspectivas para a área após o pico da pandemia foram temas do painel de abertura do segundo dia do Summit Saúde 2020. 

A mesa de debate mediada por Fabiana Cambricoli, jornalista do Estadão, abordou os desafios da saúde suplementar, como a sustentabilidade financeira das operadoras, a suspensão e os possíveis reajustes, bem como a utilização da telemedicina e a importância da eficiência no setor.

Primeiros impactos

“A pandemia foi dramática, trágica, em dimensões maiores que a gente imaginou, e ainda não podemos falar em pós-pandemia”, avalia Vera Valente.(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), abriu o debate com um relato sobre os primeiros impactos da pandemia no sistema de saúde suplementar. “Houve perda de beneficiários e redução de um número expressivo de procedimentos, em especial de consultas, exames e cirurgias”, afirma.

Cerca de 136 mil pessoas cancelaram seus planos de saúde. Destas, mais de 100 mil deixaram os planos empresariais e mais de 35 mil suspenderam planos individuais, provavelmente por incapacidade financeira, de acordo com Alessandro Acayaba, presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab).

“A perda não foi maior nos coletivos empresariais e individuais pela ajuda que o governo deu, tanto para empresas quanto para pessoas”, avalia José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). 

“Em julho, 17% da massa salarial veio da ajuda do governo. Sem ela, o quadro seria muito mais dramático”, conclui.

Houve também uma redução dos procedimentos eletivos, como consultas e exames. O índice de sinistralidade chegou a 64% nas maiores operadoras do País, quando o normal gira em torno de 80%. 

“A decisão de postergar o uso do sistema foi dos pacientes e dos médicos em função da pandemia, até como uma forma de proteger os beneficiários”, comenta a diretora executiva da FenaSaúde.

Sustentabilidade financeira

“Temos de buscar um modelo sustentável, e não o aumento de custos ano a ano. Nesse cenário, o reajuste não se torna mais prioritário”, defende Tatiana Aranovich. (Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

De agosto a setembro, o número de beneficiários começou a aumentar, revertendo a tendência dos meses anteriores. No entanto, houve mudança de perfil, com redução de planos empresariais e pequeno aumento do plano individual e grande aumento dos planos coletivos por adesão, explica Tatiana Aranovich, assessora da diretoria de Normas e Habilitação das Operadoras da Agência Nacional de Saúde (ANS).

Essa recuperação de clientes foi um dos motivos que levaram a ANS a suspender, em agosto, o reajuste dos planos de saúde individuais até o final do ano. A suspensão já havia sido realizada de forma voluntária pelas operadoras de saúde no período de maio a julho. 

No caso dos planos de saúde coletivos, a negociação para o reajuste de valores é feita diretamente entre as empresas e as operadoras. Georgia Antony, especialista em desenvolvimento industrial do SESI Nacional, afirma que no setor industrial “as empresas fizeram um esforço muito grande para não demitir nem fazer downgrade no plano de saúde. Poucas tentaram negociar alguma coisa”, afirma.

Apesar da recuperação momentânea no setor suplementar, a assessora da ANS avalia que o sistema de saúde global enfrentará grandes desafios nos próximos anos devido ao envelhecimento da população mundial, à restrição orçamentária tanto no setor público quanto no privado e ao aumento dos custos de saúde.

Eficiência no setor

“O maior incentivo que o governo poderia dar, neste momento e daqui para frente, não é o financeiro, mas encampar a promoção de saúde e a criação de hábitos adequados”, comenta José Cechin. (Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

Todos os participantes do painel concordam que o setor de saúde suplementar deve buscar uma maior eficiência para alcançar a sustentabilidade. O objetivo pode ser alcançar com novos modelos de negócio e também com a utilização de novas tecnologias, como a telemedicina, que facilita o acesso aos serviços de saúde.

No entanto, a tecnologia precisa de um arcabouço jurídico após o término da pandemia. Para Vera Valente, a telemedicina “é uma coisa sem volta, com resolutividade ótima e redução de custos. Mas precisa de um marco legal para trazer segurança para todos os envolvidos”.

O Summit Saúde 2020 continua até o dia 30, sempre no período matutino. Amanhã, o evento abordará a vacinação e a prevenção de doenças, com a participação de Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência; e Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. A mediação será feita pela jornalista Fabiana Cambrícoli.

Ainda nesta quarta, o painel Caminhos para Erradicação da Poliomielite, que conta com o patrocínio Sanofi Pasteur, receberá Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; Akira Homma, assessor científico sênior da Bio-Manguinhos/Fiocruz; e Luiza Helena Falleiros, membro do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. A mediação será de Rita Lisauskas, blogueira do Estadão e colunista da Rádio Eldorado.

As inscrições para o evento online continuam abertas e são gratuitas. 

Fontes: Summit Estadão 2020.

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