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Coronavac: suspensão de testes e impasse com o governo federal

A Coronavac é uma das muitas vacinas contra a covid-19 que estão em teste no mundo, motivo pelo qual o governo de São Paulo fechou parceria com a empresa chinesa Sinovac Biotech para a fabricação do produto pelo Instituto Butantan. No entanto, a vacina vem enfrentando dificuldades causadas por uma série de ações e declarações do governo federal.

O último impasse foi a suspensão dos testes clínicos da vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por conta da morte de um voluntário do experimento. Ainda assim, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) demonstrou que o óbito não teve relação com o imunizante.

A decisão causou desconforto porque os técnicos da agência federal suspenderam a autorização sem comunicar ou pedir esclarecimentos aos pesquisadores. Isso levantou a suspeita de que o órgão está sofrendo interferência política do Presidente Jair Bolsonaro, que tem se declarado publicamente opositor à aplicação da vacina chinesa no Brasil.

Disputa política

Presidente Bolsonaro tem demonstrado forte oposição às medidas preventivas contra a disseminação do coronavírus. (Fonte: Shutterstock)

A frase publicada no Twitter pelo presidente da República após a suspensão dos testes clínicos da Coronavac pela Anvisa evidencia os contornos políticos que a questão de saúde pública ganhou no Brasil durante a crise sanitária: “Mais uma que o presidente Jair Bolsonaro ganha”.

Desde o início da pandemia, o discurso e as ações do governo federal ante a covid-19 têm sido alinhados com a gestão do presidente estadunidense Donald Trump e incluem ataques diretos e frequentes à China e contra medidas preventivas de enfrentamento à doença, como o isolamento social. Ao mesmo tempo, os dois líderes defenderam tratamentos sem comprovação científica, como o uso da cloroquina.

Estados Unidos e Brasil concentram boa parte da crise sanitária global. Juntos, os países são responsáveis por cerca de um terço dos óbitos provocados pelo coronavírus no mundo até o momento, de acordo com Universidade Johns Hopkins; o número é absurdo se considerarmos que os cidadãos estadunidenses e brasileiros representam menos de 10% da população mundial.

Polêmica da Coronavac

Aplicação da Coronavac no Brasil pode ser atrasada por conta de imbróglios com o governo federal. (Fonte: Shutterstock)

A Coronavac, por sua origem chinesa, tem sido frequentemente criticada pelo presidente brasileiro e já gerou diversos embates diretos com o governador de São Paulo, João Doria. Entre os últimos pontos estão o cancelamento do protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses do imunizante e o atraso na avaliação da importação de insumos para a fabricação do produto.

O Instituto Butantan solicitou à Anvisa autorização para a importação dos itens necessários para a produção da Coronavac em 23 de setembro; a liberação para a compra dos insumos demorou mais de um mês e só ocorreu em 28 de outubro após cobranças públicas e mais polêmica sobre o assunto.

Em 21 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar uma negociação com o Instituto Butantan para a disponibilização da vacina pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas Bolsonaro afirmou que “não há intenção de compra”, e o comunicado foi retirado do site do Ministério da Saúde.

Próximos passos

A Coronavac é a vacina com pesquisas em estágio mais avançado no Brasil, tendo 9 mil dos 13 mil voluntários já imunizados. Nessa fase, os participantes são divididos em dois grupos: um recebe a vacina e o outro, placebo. Todos são monitorados até no mínimo 61 participantes serem infectados pelo novo coronavírus, então os pesquisadores comparam o efeito imunizante para calcular a eficácia do produto. Caso o número de doentes seja maior no grupo de placebo do que no que recebeu a vacina, as análises avançam para uma nova confirmação com amostra mínima de 151 infecções.

Segundo o governo de São Paulo, os estudos clínicos devem ser concluídos até o fim do ano. A partir daí, os resultados deverão ser encaminhados para a Anvisa com a solicitação do registro da vacina. Após a liberação pelo órgão, o governo paulista deve iniciar a vacinação em cidadãos mais expostos ao risco de contaminação, como profissionais de saúde e segurança, portadores de doenças crônicas, idosos e pessoas com alguma imunodeficiência.

O Estado de São Paulo deverá comprar 6 milhões de doses da China, e o Instituto Butantan pretende fabricar 40 milhões de vacinas a partir da importação de insumos.

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Fonte: Universidade de Johns Hopkins, Conselho Nacional de Saúde, Agência Brasil e Estadão.

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