Uma tecnologia utilizada em larga escala nos sistemas de ventilação de todo o mundo pode ser eficaz no combate ao novo coronavírus. A ionização bipolar libera átomos para purificar o ar e desativa substâncias nocivas, como bactérias, mofo, alérgenos e vírus. O método já se mostrou eficaz contra Sars, norovírus e cepas da influenza.
As preocupações com a transmissão aérea cresceram à medida que novas pesquisas indicaram que o novo coronavírus pode permanecer no ar por mais tempo e se espalhar além do que se pensava. Alguns especialistas agora acreditam que apenas a respiração normal já pode espalhar o vírus.
Um estudo publicado em março no The New England Journal of Medicine sugere que o coronavírus fique suspenso no ar por cerca de meia hora antes de cair e pousar em superfícies. Nelas, ele pode permanecer por horas ou até dias dependendo do material e isso acontece quando os vírus estão em gotículas menores do que cinco micrômetros, conhecidas também como aerossóis.
Os pesquisadores afirmam que, durante a fase experimental do estudo, o vírus foi capaz de ficar suspenso por três horas, mas cairia mais rápido na maioria das condições fora do laboratório. Entretanto, muco e fluidos respiratórios também podem permitir ao vírus sobreviver por mais tempo do que os fluidos de laboratório usados pelos pesquisadores em seus experimentos.
O vírus não permanece no ar em níveis altos o suficiente para ser um risco à maioria das pessoas que não estão fisicamente perto de uma pessoa infectada. No entanto, o fato de o vírus sobreviver e permanecer infeccioso em aerossóis pode ser um risco para os profissionais da Saúde. Isso acontece porque os procedimentos utilizados para cuidar de pacientes infectados provavelmente geram aerossóis.
A possibilidade de propagação em aerossol da covid-19 e a capacidade de partículas pairarem no ar por longos períodos de tempo tornariam a consideração de uma estratégia ativa de limpeza do ar ainda mais prudente.
Como funciona a tecnologia de ionização bipolar
A ionização bipolar é um método de purificação de ar que cria um bioclima rico liberando íons negativos e positivos. Essa tecnologia utiliza tubos especializados que retiram moléculas de oxigênio do ar e as convertem em átomos carregados, os quais se agrupam em torno de micropartículas.
As gotículas de ar expelidas e partículas de poeira que podem transportar o vírus não possuem elétrons, por isso procuram naturalmente outros átomos e moléculas. Essa é a oportunidade dos átomos liberados pela ionização bipolar se unirem às micropartículas suspensas, tornando-as maiores para que fiquem mais facilmente presas nos filtros. É um processo ativo que fornece desinfecção contínua.
A tecnologia produz uma reação química na superfície da membrana celular que inativa o vírus. O método pode reduzir 99,9% dos micróbios em questão de minutos. Como os coronavírus são envelopados por uma cápsula de gordura, são mais fáceis de matar em comparação com os vírus nus, como os norovírus.
A ionização bipolar não pode ser vista, mas sua presença tornará o ar mais fresco, semelhante ao da natureza. A ocorrência de íons positivos e negativos acontece naturalmente, especialmente no topo de montanhas e cachoeiras, onde a produção de desses átomos purifica o ar.
Avanços recentes tornaram as unidades mais baratas e fáceis de serem instaladas, e as empresas estão se esforçando para testar a tecnologia contra o coronavírus. Os primeiros resultados de testes com a ionização bipolar no combate ao vírus foram positivos.
Onde o método já é utilizado
Muito popular na Europa, a tecnologia de ionização bipolar chegou aos EUA nos anos 1970 como uma ferramenta para controlar patógenos na fabricação de alimentos. Foi eficaz durante o surto de Sars em 2004, bem como em outros mais recentes (de Mers e norovírus) e nas várias cepas de influenza.
No passado, melhorar a qualidade do ar em ambientes fechados costumava ser visto como um luxo, mas agora isso precisa ser visto como algo essencial. Eventos como a pandemia atual, infelizmente, atuam como um alerta para entender as implicações de não abordar a qualidade do ar interno de ambientes.
A tecnologia está sendo adotada em sistemas de ventilação de locais fechados. Existem opções para o lar, incluindo dispositivos portáteis autônomos e adições aos sistemas HVAC (aquecimento, ventilação e condicionamento de ar). Além disso, há hospitais, sedes de grandes empresas e aeroportos utilizando-a.
Nos Estados Unidos, os hospitais Johns Hopkins e Children’s Hospital Boston, assim como o Centro Médico da Universidade de Maryland, já adotaram a tecnologia.
Nos terminais dos aeroportos internacionais de Los Angeles (LAX) e São Francisco na Califórnia, de LaGuardia em Nova York e de O’Hare em Chicago, também há unidades de ionização bipolar.
Na Amalie Arena de Tampa (Flórida), no Hotel TWA, no aeroporto JFK (Nova York), assim como em grandes locais de trabalho, por exemplo na sede do Google (Chicago), estão adotando essa tecnologia .
Fonte: Business Insider, The New York Times, Science Magazine, The New England Journal of Medicine.