Apenas 14% dos profissionais de saúde se sentem preparados para atuar no contexto de pandemia de covid-19. Quase dois terços dos consultados afirmaram que não sabem lidar de forma adequada com a crise sanitária. Essas são as principais conclusões de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para avaliar a percepção dos profissionais sobre o impacto da crise sanitária em seu trabalho.
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“Os profissionais de saúde são aqueles mais diretamente afetados pela crise, na medida em que a população passa a depender deles para ter acesso a tratamento, mas também ficam extremamente expostos ao contágio da doença”, afirma a FGV em texto à imprensa. Com isso, compreender o impacto do surto de Sars-CoV-2 pode ajudar no combate ao vírus.
Em todo o mundo, 260 enfermeiros faleceram em decorrência da covid-19 até abril. No Brasil, já morreram 137 profissionais da área, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem.
Profissionais consultados
A FGV alerta que os números da pesquisa não podem ser generalizados para todos os trabalhadores de saúde no País. Para a pesquisa, foram consultados 1.456 trabalhadores da saúde pública no Brasil, incluindo médicos, enfermeiros e outros profissionais do setor.
Cerca de 80% dos entrevistados eram mulheres e 20%, homens. Os agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate a endemias (ACE) representam 60,44% da amostra, enquanto 14,01% são profissionais de enfermagem, 8,31% médicos e 17,24% correspondem às demais profissões relacionadas às equipes ampliadas ou à gestão do serviço. A maior parte dos profissionais (64,84%) trabalham na área há mais de dez anos.
Sentimento de medo
O medo é um sentimento muito comum entre profissionais de saúde na linha de frente do combate ao coronavírus. O sentimento independe da região, da função e até mesmo do nível de atenção do estabelecimento onde trabalham. Isso pode, inclusive, impactar o aumento de casos de depressão e insônia entre os trabalhadores do setor de saúde.
Segundo dados coletados pela FGV, 91% dos ACS e ACE temem a doença. O medo atinge também 84% dos enfermeiros e 77% dos médicos, além de 88% de outros profissionais das equipes ampliadas de saúde. Mais de 55% dos entrevistados relataram conhecer um familiar ou alguém com diagnóstico confirmado ou de suspeita de infecção por Sars-CoV-2.
Preparo dos profissionais
Cerca de 65% dos profissionais responderam que não se sentiam preparados para lidar com a pandemia, com uma diferença significativa por região. Os trabalhadores que atuam no Norte são os que se sentem menos preparados (6,1%), seguidos pelos profissionais do Nordeste (8%). Enquanto isso, os da região Centro-Oeste (37,7%) e Sudeste (20%) são aqueles mais confiantes diante da crise.
Os resultados dos sentimentos de medo e falta de preparo, segundo dados do FGV, podem ser explicados por disponibilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), suporte governamental e acesso a treinamentos.
EPI
Apenas 32% dos trabalhadores informaram ter recebido EPIs. A situação dos ACS e ACE é ainda mais alarmante — apenas 19,65% afirmaram terem recebido equipamentos de proteção.
“Um trabalho de atendimento na ponta sem o devido EPI gera um risco altíssimo de contágio tanto para profissionais quanto para usuários dos serviços de saúde. Além disso, aumenta a insegurança desses profissionais e a hostilidade por parte dos pacientes”, comentou Gabriela Lotta, coordenadora do estudo, em texto divulgado no blog Impacto da FGV.
Treinamento
Menos de 22% dos trabalhadores disseram que receberam algum treinamento para lidar com a crise sanitária. Cerca de 59% dos profissionais de enfermagem e 55% dos médicos relataram não ter recebido formação para atuar durante a pandemia. Enquanto isso, quase 90% dos agentes comunitários de saúde não foram treinados para a situação emergencial.
Suporte do governo
Mais da metade dos entrevistados afirmaram não sentir o apoio das entidades governamentais. Dois terços dos profissionais afirmaram que não recebem suporte do governo federal, enquanto 51% informaram que não se sentem apoiados pelos governos estaduais. Quando questionados sobre o suporte direto de seus superiores, 72% dos consultados disseram que não sentem o apoio de seus chefes.
Mudanças na rotina
Entre os entrevistados, 75% responderam que a crise alterou suas rotinas, com mudanças em fluxo de trabalho, procedimentos, prioridades e introdução de novas tecnologias. As interações com pacientes também foram impactadas por conta da pandemia para 88% dos consultados, em especial com relação ao distanciamento físico.
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Fontes: Agência Brasil e Fundação Getúlio Vargas.