A imunização é forma mais eficiente de controle de infecções e erradicação de patologias. No entanto, a adesão à vacinação vem diminuindo no Brasil nos últimos anos. Essa tendência tem sido amplificada em 2020, tanto pela disseminação de fake news quanto pelo receio de contaminação pelo coronavírus.
As principais ações para ampliar a imunização da população e garantir a prevenção de doenças foram os temas do painel que abriu o terceiro dia do Summit Saúde 2020. O debate também abordou os motivos para a baixa adesão às campanhas de imunização e as estratégias para o combate à desinformação.
A conversa, que contou com a mediação da jornalista Fabiana Cambricoli, teve a participação de Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência; Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical; e Alberto dos Santos de Lemos, pesquisador do laboratório de pesquisa em Imunização e Vigilância em Saúde da Fiocruz.
Movimento antivacina
O movimento contrário à vacinação não é novidade. “O movimento antivacina existe há muito tempo, como a revolta antivacina no começo do século 20”, lembra Pedro Vasconcelos. Agora, porém, a oposição à imunização é mais forte.
“O movimento contrário à vacinação é muito organizado e se aproveitou do contexto da pandemia para conseguir disseminar mais desinformação sobre vacinas”, argumenta Natalia Pasternak. Entretanto, o movimento antivacina brasileiro difere um pouco do mundial. A presidente do Instituto Questão de Ciência acredita que, no Brasil, “temos um lobby muito forte de empresas que promovem curas naturais”.
Politização da vacinação
A desinformação sobre a vacinação está ligada a uma politização do setor. Ballalai defende que “o posicionamento e a confiança nas autoridades públicas é o que faz o indivíduo confiar em saúde”.
Isso, porém, não está acontecendo no Brasil. A discussão entre o presidente da República e o governador de São Paulo sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19, por exemplo, tem prejudicado o debate sobre as questões importantes para a saúde pública.
Sucesso do programa brasileiro
O Programa Nacional de Imunização (PNI) brasileiro continua sendo referência mundial, afirmam os participantes do painel. Com exceção do Brasil, “nenhum país do mundo tem um programa de imunização para vacinar todas as camadas da sociedade de forma gratuita”, ressalta Vasconcelos. Campanhas passadas chegaram a ter até 98% de cobertura vacinal.
Mas essa cobertura tem diminuído ao longo dos anos, o que compromete o sucesso do programa. A campanha atual está com uma cobertura de apenas 40%, e uma série de fatores podem ter contribuído para essa diminuição.
Entre eles, estão a disseminação de fake news, a sensação de segurança provocada pelo controle das doenças e os impactos da pandemia, que causaram fechamento de postos de saúde e receio na população.
Além disso, a falta de coordenação em posições estratégicas no Ministério da Saúde foi importante. “A Secretária de Vigilância em Saúde ficou um tempo sem direcionamento e, claro, isso tem um impacto”, argumenta o pesquisador da Fiocruz.
Vacina contra a covid-19
Todas as vacinas demoram décadas de pesquisa para serem ofertadas para a população. Por esse motivo, Pedro Vasconcelos vê com desconfiança o encurtamento de procedimentos para a disponibilização de uma vacina contra o coronavírus. “Avaliar a eficácia com menos de um ano é bastante perigoso”, alerta.
Além disso, é preciso preparar o país para a distribuição das vacinas. Ballalai afirma que já existe uma estrutura mínima para isso, que tem funcionado bem, inclusive com técnicos bem preparados e câmaras de vacinas nos postos de saúde.
Entretanto, existem obstáculos como falhas no fornecimento de energia elétrica que podem inutilizar a imunização e comprometer todo o trabalho. A falta de insumos médicos também pode inviabilizar a imunização.
Importância da imunização
Apesar de todas as dificuldades e da desinformação, a imunização continua importante para o combate de doenças infecciosas.
A presidente do Instituto Questão de Ciência provoca: “olha a situação que a gente está vivendo por conta de uma doença, o custo social, econômico e de prevenção que a falta de uma vacina para uma doença infecciosa está fazendo no mundo. Imagine se a gente não tivesse todas as outras!”.
O Summit Saúde 2020 continua até o dia 30, sempre no período da manhã. Nesta quinta, serão abordados os rumos e modelos da telemedicina em painel com Carolina Pampolha, head de Operações da Docway; Donizetti Dimer Giamberardino Filho, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM); Rogério Carballo, gerente médico de Novos Negócios e Telemedicina do Hospital Infantil Sabará; e Tereza Veloso, diretora técnica médica e de Relacionamento com Prestadores da SulAmérica.
O evento também contará com a keynote “Experiência e os Impactos da Pandemia nos Hospitais”, ministrada por Jose Solis-Padilla, MBA Senior Administrator International Business Development da Mayo Clinic.
As inscrições para o evento online continuam abertas e são gratuitas.
Fontes: Summit Estadão 2020.