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Uma mulher portadora do vírus HIV, que reside na África do Sul, teve covid-19 durante 216 dias, período no qual acumulou mais de 30 mutações do Sars-CoV-2. O caso curioso foi relatado em um estudo preliminar publicado na plataforma medRxiv, no dia 3 de junho, mas ainda precisa ser revisado pela comunidade científica.
A paciente, de 36 anos de idade, teve o quadro descoberto por acaso, após ser inscrita em uma pesquisa para investigar o comportamento do novo coronavírus em soropositivos. O estudo contou com 300 voluntários e encontrou ainda outros quatro participantes nos quais a doença durou mais de 30 dias.
Diagnosticada com Aids no ano de 2006, a mulher, cuja identidade não foi revelada, nunca teve a carga viral controlada utilizando a terapia antirretroviral padrão, conforme o artigo. Devido a essa ausência de tratamento, as células de defesa T-CD4+, que poderiam contribuir para o combate ao Sars-CoV-2, estavam em baixa quantidade no organismo dela.
Ela contraiu covid-19 em setembro de 2020, durante o segundo surto de infecções na África do Sul, precisando ficar hospitalizada por nove dias, mesmo apresentando apenas sintomas moderados da doença. Foi nessa época que a paciente se inscreveu para participar da investigação, tendo a resposta imunológica examinada pelos especialistas.
Quase oito meses com covid-19
Os pesquisadores, que buscavam entender se os soropositivos podem permanecer com o novo coronavírus por mais tempo no organismo, identificaram 13 mutações na proteína spike na membrana celular da sul-africana. Eles também encontraram mais 19 alterações genéticas com capacidade de modificar o comportamento do vírus.
Entre as 32 cepas descobertas na paciente que teve covid-19 por quase oito meses, estava a mutação E484K, encontrada na variante Alpha (B.1.1.7), identificada pela primeira vez no Reino Unido. A cepa N510Y, que faz parte da variante Beta (B.1.351), observada inicialmente na África do Sul, também foi confirmada nos testes.
Por enquanto, não está claro se a mulher transmitiu algumas das cepas que carregava para outras pessoas, mas os especialistas não descartam uma relação entre o caso e o surgimento de novas e perigosas cepas em outras regiões, como a província sul-africana de KwaZulu-Natal, onde 25% da população adulta têm Aids.
Uma investigação mais profunda sobre os casos de soropositivos com covid-19 é defendida pelos autores da pesquisa. Para o geneticista Tulio de Oliveira, da Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban, será necessário entender como o vírus da Aids pode induzir à formação de novas variantes do Sars-CoV-2, se outras ocorrências parecidas forem encontradas.
Uma relação perigosa
Apesar da possibilidade de o caso estudado ser uma exceção e não a regra, as descobertas levantam uma hipótese preocupante. Conforme disse Oliveira ao Los Angeles Times, os pesquisadores desconfiam que pacientes soropositivos e sem tratamento adequado para a Aids podem se tornar uma “fábrica de variantes” do Sars-CoV-2.
Em relação à paciente, seu tratamento incluiu novos antirretrovirais, cerca de seis meses após o início do estudo, em substituição aos medicamentos usados anteriormente. Duas semanas depois, ela estava com a doença controlada e já não apresentava mais sinais da infecção pela covid-19.
Fonte: medRxiv, Business Insider, Los Angeles Times.