A doação e a demanda por sangue têm apresentado crescimentos desiguais no mundo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, embora o número de doadores voluntários tenha crescido nos últimos anos, a procura ainda é maior do que a oferta quando analisada em nível global.
Isso pode ser explicado pelos progressos tecnológicos da medicina, que implicam a multiplicação de procedimentos médico-cirúrgicos de alta complexidade. Outras razões também podem ser a baixa durabilidade de alguns hemoderivados e o aumento na expectativa de vida da população.
Panorama brasileiro
A estimativa mais recente do Ministério da Saúde indica que 66% das doações de sangue no Brasil são espontâneas; atualmente, 16 a cada 1 mil habitantes doam sangue no País. Isso representa 1,6% da população, índice que está na média dos valores recomendados pela OMS, que é de 1% a 3% da população de cada país.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2017, foram coletados 3,4 milhões de bolsas de sangue e realizados 2,8 milhões de transfusões. Como 66% das doações foram espontâneas, estima-se que os 34% restantes se refiram às chamadas doações de reposição, nas quais o indivíduo doa para atender à demanda de um paciente ao qual é ligado por vínculos familiares, de amizade ou profissionais.
Desafios
Pesquisas que visam compreender os motivos pelos quais as pessoas doam sangue têm gerado discussões em âmbito nacional e internacional. Inúmeros estudos têm sido realizados com o objetivo de elencar fatores psicossociais que sejam determinantes no recrutamento e na fidelização de doadores voluntários.
Uma pesquisa conduzida por uma brasileira em 2018, em Ribeirão Preto (SP) e publicada na revista eletrônica Vox Sanguinis, avaliou como religiosidade, medo, qualidade de vida, grupos de referência e variáveis sociodemográficas e comportamentais podem interferir na decisão dos indivíduos na hora de doar sangue.
A variável que mais parece interferir é o medo: de sangue, injeções ou desmaios, o que afeta diretamente a doação. Devido a isso, foi sugerida a realização de estudos para estabelecer uma melhor compreensão da relação entre o medo e o bloqueio para a doação. O objetivo é orientar campanhas, através da conscientização, para evitar o baixo interesse da população causado por preconceitos culturais ou falta de informações sobre o assunto.
Desconstrução do medo
Um resultado curioso do estudo conduzido em Ribeirão Preto foi que, embora o grau de intensidade de medo fosse mais alto entre aqueles que nunca doaram sangue e mais baixo entre os que doaram mais de dez vezes, muitos participantes que revelaram sentir medo já tinham feito doações de sangue.
Buscar a compreensão desse fato e o que leva indivíduos a doarem sangue apesar dos medos pode ser o ponto de partida para o estabelecimento de estratégias úteis para estimular as pessoas que ainda não são doadoras.
Fontes: Ministério da Saúde, Universidade de São Paulo — Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.