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Queda na adesão à quarentena representa perigos para a população

Apesar das reiteradas recomendações para que a população fique em casa durante a quarentena que tenta diminuir a disseminação do novo coronavírus, a circulação de pessoas nas ruas brasileiras aumentou na última semana de março. Segundo projeção do Instituto Butantã e da Universidade de Brasília (UnB), o isolamento social na capital do País, que era realizado por 66% da população, passou para 52,4% e atingiu o nível mais baixo, 47%, no terceiro dia de abril, em comparação com números do começo de março.

A estimativa foi feita com base em dados de geolocalização de telefones celulares, por meio de triangulação das antenas que recebem o sinal dos aparelhos. Dados do aplicativo Waze, compilados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostram a queda da adesão ao isolamento no Brasil, que era de 70% em 24 de março e atingiu 51% no dia 29 do mesmo mês.

Importância da quarentena

(Fonte: Shutterstock)

O médico infectologista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Giovanni Breda, explica que, na quarentena, alguém com covid-19 tem menos possibilidade de transmitir o coronavírus para outras pessoas. Dessa forma, será possível atrasar o pico da epidemia e diminuir a amplitude da doença, de acordo com o médico.

O especialista esclareceu que a desaceleração do ritmo de transmissão da doença permite que os serviços de saúde se preparem para estruturar melhores medidas para combater as consequências da pandemia. Sendo assim, a quarentena pode evitar um colapso dos sistemas de saúde, na medida “em que diminui muito a probabilidade de um crescimento explosivo do número de casos em curto espaço de tempo, acometendo de forma grave um número de indivíduos muito maior do que o sistema de saúde poderia minimamente acolher naquele intervalo de tempo”, explicou o professor.

O médico estima que, em média, um indivíduo infectado pelo Sars-CoV2 pode transmitir a doença para até três pessoas. O número fica abaixo do potencial de contágio do sarampo, que pode atingir até 18 não imunes a partir de um infectado, e é maior que o do vírus da influenza, em torno de 1,3 contaminado.

A situação na pandemia da covid-19, entretanto, é mais preocupante, porque a população mundial não está imune à doença. Como não há uma vacina ou um tratamento específico, o isolamento é uma das medidas de maior impacto para reduzir a capacidade de disseminação do vírus, na avaliação de Breda. O infectologista observa que o procedimento deve ser adotado no mundo todo, com a intensidade de isolamento variando entre um local e outro, a depender do momento epidemiológico de cada localidade.

Diferenças entre isolamento vertical e horizontal

O isolamento horizontal se aplica a toda a população, exceto aos envolvidos em atividades essenciais, como saúde e segurança pública. Essa estratégia consegue evitar uma aceleração descontrolada no número de casos e o colapso dos sistemas de saúde, segundo Breda.

Já o isolamento vertical foca o distanciamento de classes populacionais específicas, como idosos e pessoas com doenças crônicas. Os indivíduos fora desses grupos de risco, se assintomáticos, podem circular e exercer suas atividades normalmente. Esse modelo permitiria um retorno mais rápido das atividades econômicas; no entanto, requer “grande controle de todas as medidas, alta taxa de testagens para detecção e bloqueio dos casos e alta complacência da rede de saúde para receber uma demanda ainda grande de pacientes sintomáticos”, alertou o professor.

Ainda assim, indivíduos de grupos vulneráveis acabariam tendo uma chance maior de entrar em contato com o vírus e adoecer se comparado ao isolamento horizontal. O infectologista lembra que o Reino Unido é um exemplo de país que tentou utilizar o modelo vertical inicialmente, mas o governo optou pelo isolamento horizontal após ver o número de casos da doença explodir.

Perigos da diminuição do distanciamento social

(Fonte: Shutterstock)

O perigo da diminuição do distanciamento social é entrar em uma fase de aceleração da pandemia, com grande aumento no número de casos, colapsando os sistemas de saúde. O impacto dessa diminuição na adesão não é imediato e tende a aparecer aproximadamente duas semanas após o “relaxamento” das medidas, segundo o médico.

Nesse cenário, não só os pacientes suspeitos de covid-19 terão dificuldades em receber o atendimento de saúde adequado mas também todos com doenças comuns, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), complicações de tratamento de câncer e até gestantes.

Somente no Estado de São Paulo, segundo estimativas do governo, o total de internações por covid-19 chegará a 227 mil, com 147 mil em unidade de terapia intensiva (UTI), com o número de mortes chegando a 111 mil, mesmo com as medidas de isolamento. Sem a quarentena, o número estimado de internações é de 1,3 milhão, com 315 mil em UTI e 227 mil óbitos até outubro.

Fontes: Estadão, Banco Interamericano de Desenvolvimento.

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