Os anticorpos servem para proteger nosso corpo contra invasores. Mas, em alguns casos, eles podem ser enganados, como mostra uma pesquisa do Centro de Pesquisa do Câncer da Alemanha (Deutsches Krebsforschungszentrum — DKFZ, em alemão).
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Ao pesquisar a resposta de ratos ao papilomavírus, a equipe descobriu um mecanismo utilizado para enganar a imunidade do organismo: no início da infecção, os vírus criam uma versão mais longa da proteína que fica ao redor de seu genoma. Dessa forma, o corpo produz anticorpos contra essa outra proteína, mas que são ineficazes contra o papilomavírus, que é a verdadeira ameaça.
As artimanhas dos patógenos
Esses mecanismos de sobrevivência não são exclusividade dos papilomavírus, na verdade, à medida que os patógenos evoluem, eles criam novas estratégias (cada vez mais elaboradas) para escapar do sistema imunológico. A questão, para os cientistas, é entender melhor essas estratégias e saber como lidar com elas.
No caso dos HPV e seus subtipos, a ciência só conhece estratégias contra a imunidade inata (isto é, que já é presente no corpo) e não contra a adaptativa (que surge quando o organismo é exposto ao patógeno e está associada aos anticorpos). Por isso, a descoberta dessa artimanha de alguns tipos de HPV — que, em resumo, consiste em estimular a produção dos anticorpos errados — é tão importante.
A pesquisa do DKFZ se concentra em papilomavírus cutâneos, como o HPV5 e HPV8, que não são sexualmente transmissíveis, mas sim passados de mãe para filho. De maneira geral, não há sintomas notáveis, já que o corpo é capaz de lutar contra os vírus. Contudo, dependendo de fatores como imunidade, idade e exposição ao Sol, esses HPV podem gerar mudanças na pele e, em casos raros, até carcinomas.
Como funcionou o experimento?
Para testar a resposta imunológica ao HPV, os cientistas fizeram experiências em uma espécie particular de ratos que pode ser infectada por papilomavírus cutâneos de forma hereditária, assim como os humanos.
Os animais produzem anticorpos contra duas proteínas — L1 e L2 — que formam a cápside do papilomavírus, de modo que eles não podem entrar nas células e são neutralizados. Porém, durante os experimentos, os cientistas descobriram que os vírus produzem outro tipo de L1, que é mais longa. Uma proteína que não contribui para a cápside do HPV, mas parece servir de armadilha para direcionar a resposta imunológica do organismo.
Esse outro tipo de anticorpo não é capaz de neutralizar o HPV, atacando a proteína L1, já que ele se concentra nas proteínas-armadilha. Enquanto isso, os vírus podem continuar se reproduzindo e se espalhando pelo organismo. Apenas meses depois que a resposta imunológica foi normalizada e os corpos dos ratos do experimento começaram a produzir anticorpos para atacar as verdadeiras proteínas L1 e os vírus.
Artimanha comum entre os papilomavírus
Os cientistas descobriram que isso — a produção de uma versão mais longa da proteína L1 — acontece em quase todos os tipos de HPV que causam câncer. Sendo assim, segundo os especialistas, essa parece ser uma estratégia comum dos papilomavírus para se espalhar pelo organismo nos estágios iniciais da infecção.
Segundo Frank Rösl, que liderou a equipe de cientistas, “o fato de que anticorpos contra papilomavírus podem ser detectados, portanto, não está necessariamente associado à proteção contra infecções. Isso deverá ser levado em consideração no futuro, ao avaliar e interpretar estudos epidemiológicos”.
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Fontes: Science Daily