Ícone do site Summit Saúde Estadão

Opinião – Câncer de intestino: quais hábitos ajudam a explicar o aumento na incidência, sobretudo em jovens?

Esse tipo de tumor está ficando cada vez mais frequente antes dos 45 anos; fatores genéticos explicam apenas uma pequena parcela dos casos

*Por Pedro Uson

Por que os tumores de intestino estão sendo diagnosticados em pacientes mais jovens? Tradicionalmente, esse tipo de câncer era mais comum em pessoas acima de 50 anos, mas estudos recentes indicam que a doença está se tornando cada vez mais frequente em adultos com menos de 45 anos, inclusive no Brasil.

Diversas pesquisas internacionais e nacionais buscam entender as razões dessa mudança de perfil do paciente.

Estudos genômicos, inclusive citando dados coletados por pesquisadores brasileiros, mostram que apenas 15% a 20% dos pacientes abaixo de 45 ou 50 anos possuem alterações genéticas associadas ao tumor de cólon e reto. Entre estes, cerca de um terço tem histórico familiar da doença, e aproximadamente 15% possuem um parente de primeiro grau acometido. Assim, a maioria dos casos nessa faixa etária parece ser esporádica, sem relação direta com fatores hereditários.

De olho nisso, tem ficado cada vez mais claro que os hábitos de vida são decisivos para o surgimento desse tipo de tumor. Na Coreia do Sul, por exemplo, o aumento da incidência da doença em jovens tem sido associado à adoção de uma dieta ocidentalizada, rica em carne vermelha, embutidos, alimentos processados e bebidas açucaradas. Estudos de fato relacionam esse padrão alimentar a um maior risco de desenvolver o câncer colorretal.

Mas a qualidade da alimentação não parece ser o único problema. Afinal, sabemos que o câncer colorretal é multifatorial. Além da dieta, vários outros elementos têm sido estudados como potenciais desencadeadores, tais como sedentarismo, obesidade, consumo excessivo de álcool, tabagismo, exposição a toxinas ambientais (incluindo microplásticos presentes em embalagens alimentares e na água), além de uso precoce e frequente de antibióticos, que pode alterar a microbiota intestinal e influenciar processos inflamatórios. Algumas bactérias específicas também podem ter ligação com o desenvolvimento do câncer colorretal.

Por outro lado, fatores protetores também são conhecidos, como a prática regular de atividade física e o consumo de alimentos ricos em fibras, como verduras e frutas, que contribuem para um ambiente intestinal mais saudável.

Capa do video – Por que o câncer de intestino está acometendo pessoas mais jovens?

O médico Pedro Uson, membro do Instituto Vencer o Câncer, explica as possíveis causas por trás dessa nova realidade

Diagnóstico precoce e prevenção

A colonoscopia é o principal exame para a detecção precoce do câncer colorretal. Atualmente, a recomendação oficial é iniciar o rastreamento a partir dos 50 anos, mas diversas instituições já sugerem a redução da idade para 45 anos, especialmente para grupos de risco, como pessoas com histórico familiar de câncer colorretal, com síndromes inflamatórias do intestino, com obesidade e tabagistas.

Sinais de alerta, como anemia sem causa aparente e sangramento retal, devem ser investigados com urgência, principalmente em adultos jovens. Estudos mostram que, nessa faixa etária, os tumores colorretais têm maior tendência a se localizar no reto e na região distal do intestino, podendo ter apresentações atípicas.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer colorretal é o segundo tipo mais comum tanto em homens quanto em mulheres no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma. Para 2025, são estimados cerca de 45 mil novos casos aqui no País. O aumento da incidência em jovens reforça a necessidade de campanhas de conscientização e de revisão das diretrizes de rastreamento e prevenção.

Ficar atento aos fatores de risco e buscar medidas preventivas são passos essenciais para reduzir a incidência dessa doença em pacientes jovens. A adoção de um estilo de vida saudável e a realização de exames de rastreamento são fundamentais para um diagnóstico precoce e melhores desfechos no tratamento.

*Pedro Uson Oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer

https://www.estadao.com.br/saude/vencer-o-cancer/cancer-de-intestino-quais-habitos-ajudam-a-explicar-o-aumento-na-incidencia-sobretudo-em-jovens/

Foto: Sebastian Kaulitzki/Adobe Stock

Sair da versão mobile