A formação de novos médicos no Brasil passa por um momento crítico e de séria reflexão sobre a qualidade da saúde das próximas gerações. Pelos indicadores identificados sobre as obtenções de diplomas e das condições para que os recém-formados tenham acesso a especializações após a graduação, é notado que as populações mais carentes padecerão com esse descompasso.
A problemática começa quando a informação divulgada é de que existem muitos médicos no mercado. São 298 instituições pelo País ofertando o curso de Medicina, e a cada ano 10 mil novos médicos se formam. Desse montante, apenas 7 mil encontram vagas em hospitais para suas especializações. Isso significa que cerca de 3 mil dos médicos recém-formados acabam sem vagas para continuar seus estudos e provavelmente ocuparão posições de menor exigência curricular.
Há muitos médicos no mercado?
Segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), um estudo de 2015 sobre demografia médica no Brasil aponta para uma razão de 2,1 médicos para cada 1 mil habitantes. É uma taxa parecida com a de países mais desenvolvidos como Estados Unidos (2,5), Canadá (2,4) e Japão (2,2) e maior que a de nações como Chile (1,6), China (1,5) e Índia (0,7).
Com esses dados, a sensação é de que a saúde no Brasil tem índices elevados, porém outras informações devem ser levadas em consideração. Para o exame do Conselho Regional de Medicina (CRM) é preciso que o médico recém-formado tenha aprovação em 60% dos seus conhecimentos clínicos, mas nota-se que a cada ano mais da metade dos candidatos ao exame acaba reprovada. É o que acontece no Estado de São Paulo.
Contudo, a reprovação no exame do CRM não impede o reconhecimento do diploma, o que nos leva a refletir que mais da metade dos médicos do mercado tem apenas 40% dos conhecimentos aprovados no estado mais rico do País. Outro fator é que a maior concentração dos médicos está nos grandes centros urbanos, o que faz com que as populações mais distantes tenham acesso restrito à saúde.
O futuro da medicina no Brasil
Atualmente, existem 444 mil médicos no Brasil, e nos próximos 10 anos mais 200 mil estarão entrando no mercado de trabalho. O governo federal acredita que a restrição de abertura de novos cursos de Medicina é uma medida para conter o avanço do número de médicos. Em nações como Estados Unidos, Canadá e Portugal, o diploma do recém-formado somente é reconhecido após avaliação por um órgão externo e independente; se essa medida fosse tomada no Brasil, veríamos o número de profissionais reduzir drasticamente.
O grande desafio é formar médicos capacitados para que a saúde tenha um atendimento digno em todo o País. A quantidade, à primeira vista, leva a crer que isso constitui um problema, mas ele se torna menor quando o ponto principal é como estamos qualificando esses profissionais.
Fontes: Sanar Medicina, AMB, Cremeb.