Conheça o maior e mais importante evento do setor de saúde do Brasil.
Os contraceptivos hormonais, como pílula, adesivo ou anel vaginal, contêm hormônios sintéticos que evitam a gravidez interrompendo a ovulação. Esses hormônios são capazes de alterar o muco cervical impedindo que os espermatozoides passem pelo colo do útero e fecundem o óvulo ou ainda podem afinar o endométrio prevenindo que o óvulo fertilizado consiga se implantar no útero.
Apesar de o uso do anticoncepcional hormonal ser comum ao redor do mundo, esse remédio também é conhecido por aumentar o risco de câncer de mama, que é a causa mais comum de morte relacionada a esse tipo de patologia entre as mulheres.
Devido a isso, uma equipe de cientistas liderada pela professora Cathrin Brisken, na Escola de Ciências da Vida da Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), realizou um estudo para analisar os diferentes efeitos biológicos que progestágenos em contraceptivos hormonais têm no tecido mamário. Os resultados foram publicados pelo periódico EMBO Molecular Medicine.
Como foi realizado o estudo?
Os progestágenos são um dos principais componentes dos anticoncepcionais e imitam o hormônio sexual feminino progesterona — responsável por regular vários processos biológicos, incluindo o ciclo menstrual, a gravidez e o desenvolvimento do feto.
Brisken explica que já existem muitos estudos sobre como as formulações de anticoncepcional afetam o sistema cardiovascular, mas há pouca informação sobre os efeitos nas mamas. Por isso, a pesquisa desenvolveu novas abordagens com o objetivo de comparar os progestágenos mais comumente usados nos anticoncepcionais.
Os pesquisadores testaram os efeitos da exposição prolongada de diferentes progestágenos nas células epiteliais da mama humana ou HBECs, que revestem a camada interna dela.
Quais foram os resultados obtidos?
A pesquisa analisou a reação dos efeitos prolongados de seis progestinas: desogestrel (DSG), gestodeno (GSN), levonorgestrel (LNG), acetato de clormadinona (CMA), acetato de ciproterona (CPA) e drospirenona (DSP). Ao final do estudo, a equipe dividiu as progestinas em duas categorias: as com atividades antiandrogênicas (CMA, CPA e DSP) e as androgênicas (DSG, GSN e LNG).
Os resultados mostram que as substâncias androgênicas — que estimulam o desenvolvimento de características masculinas — induziram a expressão de uma proteína chamada Rankl, que desempenha um papel importante na proliferação celular no epitélio mamário.
Já as progestinas antiandrogênicas não apresentaram esse resultado. “Ficamos surpresos ao descobrir que alguns deles estimulam a proliferação celular na mama enquanto outros não”, explicou Brisken ao EurekAlert!.
Assim, o estudo sugere que se deve evitar contraceptivos hormonais com propriedades androgênicas, como GSN, DSG e LNG, sendo o último utilizado nas “pílulas do dia seguinte”. Dessa forma, pode-se reduzir os riscos relativos de mulheres desenvolverem o câncer de mama.
Os pesquisadores ponderam que esse é apenas um estudo inicial e que outras pesquisas podem apoiar ou refutar a hipótese, mas os dados já servem de norte para políticas públicas e ajuda na escolha individual das mulheres.
Fonte: Eureka Alert, Revista Galileu, EMBO Molecular Medicine.