Devido à adoção de medidas para barrar a disseminação da covid-19, o tratamento de outras doenças, em especial das que exigem controle contínuo, como câncer, sofreram fortes impactos negativos, a exemplo de atrasos de exames preventivos e interrupções de tratamentos.
Só para se ter uma ideia, de acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e de Patologia, 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com algum tipo da condição entre março e maio. Além disso, foi notada uma queda de 70% dos procedimentos de manejo de tumores.
Com o objetivo de conscientizar a população quanto à importância de acompanhamentos do tipo e esclarecer quais foram as medidas de segurança adotadas pelas instituições para garantir a integridade física dos pacientes, o Summit Saúde 2020 convidou, em seu último dia, especialistas para falar sobre o panorama da área no Brasil e comentar o futuro do setor. O assunto foi abordado em um painel patrocinado pela Janssen Farmacêutica, empresa da Johnson & Johnson responsável pela campanha #TudoBemTratar (criada e desenvolvida por uma coalizão formada por sete entidades, entre elas a companhia, algumas sociedades médicas e associações de pacientes.
“Quanto ao câncer, nossa meta é o diagnóstico precoce e instituição do tratamento no momento oportuno, em geral o mais breve possível. A pandemia influenciou muito, porque, para se chegar ao diagnóstico, é preciso passar pela consulta médica e por exames. O que ocorreu foi um afastamento muito grande dos pacientes e dos médicos”, explicou Antonio Carlos Lima Pompeo, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.
Razões relacionadas ao paciente, pelo temor de contágio, e à adaptação de hospitais aos casos de covid-19 em detrimento do atendimento de outras doenças foram as principais causas para essa situação, sugeriu o especialista.
“Esse somatório trouxe consequências, o que pode ser comprovado com algumas informações”, ele complementou, indicando a redução da procura por biópsias e exames, que chegaram a 40%. “Assim, perdemos a oportunidade de oferecer cura ou o melhor tratamento.”
Caso a caso
Jorge Vaz Pinto Neto, vice-diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, conta que existem diferenças entre as doenças de comportamento agressivo, que necessitam de diagnóstico e intervenção acelerados, além de internamento prolongado, e indolentes, que exigem apenas acompanhamento.
De qualquer modo, muitas delas são descobertas por acaso – e, felizmente, o impacto no atraso de diagnóstico daquelas que não demandam atenção imediata é menos importante, mesmo que não possa ser desconsiderado. Ainda assim, todo caso deve ser cuidadosamente avaliado.
“Em linhas gerais, pacientes com doenças indolentes já diagnosticadas têm sido orientados a permanecer mais em casa, a realizar exames apenas quando absolutamente necessário para que contribuam com as medidas de isolamento social”, contou Jorge Vaz, o qual salientou que, independentemente do grupo ao qual pertençam, tais pessoas são mais vulneráveis às formas graves da contaminação pelo novo coronavírus. Por isso, têm de ser mais protegidas.
As ações das autoridades também exercem papel importante nessa história, já que, de acordo com Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, uma definição clara de planos de retomada de atividades faz muita falta.
“Infelizmente, o que nos espera é uma epidemia grave dos casos de câncer. O que podemos começar a fazer hoje? Essa é uma pergunta importante”, ela declarou.
#TudoBemTratar
Antonio Carlos orientou às pessoas que voltem aos hospitais e consultórios, já que instituições de atendimento buscam as melhores maneiras de proteger os pacientes, até mesmo para garantir a saúde dos profissionais. “Seguir orientações de órgãos de saúde também é fundamental”, ele indicou – principalmente no caso de cuidadores e familiares, que devem adotar medidas rígidas para evitar contaminação.
“Em primeiro lugar, ao entrar na casa, é preciso higienizar os pés em um carpete com solução de cândida, por exemplo. Antes de entrar em contato com o paciente, higienizar-se e, de preferência, trocar de roupa – dando preferência a aventais descartáveis.
Usar pulverizadores e manter distância do doente também são orientações, assim como luvas para manuseio de instrumentos. Testagem constante não deve ser descartada”, ele sugeriu.
Jorge Vaz, por sua vez, destacou também a importância de que profissionais utilizem EPIs adequadamente e de que todos se previnam da melhor maneira possível. “A gente tem que manter os cuidados”, finalizou Vaz.
Fontes: Summit Saúde 2020, Shutterstock.