Um estudo realizado por pesquisadores da Sapienza Università di Roma, na Itália, pode trazer uma nova e revolucionária perspectiva para o tratamento do Mal de Alzheimer. Essa doença degenerativa, que afeta o cérebro de cerca 1,2 milhão de pessoas apenas no Brasil, não tem uma cura conhecida.
O protocolo atualmente envolve tratamentos para aliviar os sintomas (que incluem perda de memória e capacidade cognitiva), retardar o avanço da doença e oferecer maior qualidade de vida nos 8 a 10 anos de sobrevida após o diagnóstico. Porém, segundo esse novo estudo, publicado no jornal da Federation of American Societies for Experimental Biology, intervir precocemente nas inflamações cerebrais causadas pelo Alzheimer pode ser uma alternativa promissora para que a demência seja contida.
O papel das inflamações no Alzheimer
As inflamações cerebrais são um dos três principais vestígios da doença, assim como o depósito de peptídeos beta-amiloide e o acúmulo de proteínas dentro dos neurônios. Anteriormente, uma pesquisa de 2015 do Hospital Universitário de Bonn (Alemanha) já havia sugerido que mais do que um mero efeito da doença, as inflamações poderiam ser um dos principais causadores de seus sintomas, tanto quanto (ou até mais) do que as próprias placas senis ou os emaranhados neurofibrilares.
Em seu próprio texto, a Dra. Caterina Scuderi — professora de Toxicologia e Farmacologia na Sapienza e coordenadora do estudo —, observa que a inflamação é importante, pois é uma reação imune do organismo aos depósitos anormais de células no cérebro. Por outro lado, quando essa reação se prolonga, ela causa o efeito contrário e piora o quadro do paciente: a inflamação se espalha pelo cérebro, causando disfunção neural e morte de células, contribuindo para o avanço do Alzheimer, em última instância.
Dessa maneira, a Dra. Scuderi observou a oportunidade de atuar nas inflamações, ainda no estágio inicial da doença, quando alterações moleculares já foram desencadeadas, mas ainda não ocorreram grandes danos ao cérebro. Nas palavras da coordenadora do estudo, isso “poderia oferecer uma maneira de reduzir o número de pessoas que desenvolvem a demência completa”.
O estudo e seus resultados
O foco das experiências da equipe da Dra. Scuderi eram as células gliais, que ficam ao redor dos neurônios e cujas anormalidades são associadas à demência.
A partir de testes com animais e modelos in vitro do Mal de Alzheimer, os pesquisadores demonstraram que as anormalidades nas células gliais também têm papel relevante nas alterações cerebrais geradas pela doença. Essas anormalidades e as inflamações geram alterações na citoarquitetura do cérebro, modificações no metabolismo do cérebro e morte de neurônios. Portanto, compostos capazes de controlar a ativação das células gliais, com neuroprotetores e anti-inflamatórios, podem ser medicamentos importantes para conter esse desenvolvimento inicial do Alzheimer.
Naturalmente, novas pesquisas com esses tipos de fármaco precisam ser realizadas, para colocar as descobertas da Dra. Scuderi e sua equipe em prática. Embora os resultados sejam animadores e demonstram que a gliose pode ser um importante alvo terapêutico — não apenas para o Alzheimer, mas também para outras doenças neurológicas — o estudo pondera que é preciso equilibrar as intervenções. Afinal, é necessário conter os efeitos nocivos das inflamações, mas manter os mecanismos de defesa do cérebro.
“Nós esperamos que esses resultados estimulem cientistas a investigar mais a fundo a inflamação cerebral nos estágios iniciais da doença”, afirma a Dra. Scuderi.
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Fontes: Ministério da Saúde, Hospital Sírio Libanês, Federation of American Societies for Experimental Biology (FASEB) e Medical News Today