Um composto chamado miramistina, desenvolvido pelo programa espacial da União Soviética durante a Guerra Fria e redescoberto por cientistas no Reino Unido, pode ser um antisséptico eficaz contra diversos tipos de vírus, incluindo variações de coronavírus, influenza A (causador da gripe), HPV (papilomavírus humano) e HIV. Ele havia sido “apagado” do Ocidente devido à barreira linguística.
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David Denning, coautor do estudo, explicou em entrevista ao Healthline que quase todas as pesquisas a respeito do produto estão em russo ou ucraniano, tendo apenas duas delas sido publicadas em inglês. Seu colega, o Dr. Ali Osmanov, foi o responsável por levar o antisséptico à equipe de Manchester para análises adicionais e atualizadas, pois é da Ucrânia, onde a miramistina ainda é usada em ambiente clínico.
“Examinamos a estrutura e conversamos sobre isso. Eu disse: ‘O quê? Eu nunca ouvi falar disso. Quero dizer, eu realmente não sei nada sobre o assunto'”, contou Denning.
Osmanov explicou que “a miramistina foi negligenciada no Ocidente e pode ter vantagens práticas e ambientais. Hoje, os antissépticos agem como uma ‘última fronteira’ contra bactérias e vírus resistentes a antibióticos e têm um papel importante no controle de infecções. Infelizmente, os produtos usados atualmente têm algumas falhas”. Como exemplo, o pesquisador apontou que alvejantes podem piorar sintomas de asma, enquanto outras soluções não são eficazes como eles contra o novo coronavírus.
Vantagens da miramistina
Duas características importantes destacam a miramistina: a provável baixa toxicidade e a menor probabilidade de incentivar o surgimento de superbactérias resistentes a antibacterianos e mais difíceis de eliminar. O triclosan, também utilizado para combater microrganismos, foi proibido em produtos de higiene corporal nos Estados Unidos justamente por esse motivo.
“Miramistina é um antisséptico bastante amplo, portanto pode ser que trabalhe no nível da superfície celular, sendo muito mais difícil que promova resistência”, ressaltou Denning.
Os pesquisadores acreditam que, mesmo após diversas gerações de replicações, o potencial do composto permaneça intacto, já que, ao contrário da penicilina, por exemplo, os agentes danificam as células de maneira direta e não se ligam à célula-alvo. Além disso, efeitos ambientais negativos seriam evitados, pois, diferente de outros, como o já citado triclosan, a miramistina não demora muito tempo para se decompor.
Sendo assim, não estão descartadas amplas aplicações em superfícies de hospitais e linhas de frente, locais nos quais são necessários fortes antissépticos que, ao mesmo tempo, evitem o desenvolvimento de variações de vírus cada vez mais fortes. A “novidade” dos anos 1950 também tende a ser menos tóxica que produtos de limpeza comuns. Infelizmente, ainda não se sabe o quanto ela é útil contra o Sars-CoV-2, já que testes voltados a essa finalidade não foram realizados.
Combate a micoses
Denning afirma que é quase certo que a miramistina funcione contra o novo coronavírus, entretanto testes clínicos são necessários para que isso se confirme. De qualquer maneira, ela se torna uma candidata forte para usos clínicos como antisséptico tópico em feridas, úlceras e infecções de pele como micoses, extremamente comuns.
Normalmente tratada com medicação antifúngica terbinafina, também conhecida como Lamisil, a condição dermatológica já enfrenta os problemas de resistência dos microrganismos, o que pode ser revertido com o composto.
“Ele é muito ativo contra esses fungos, portanto pode haver uma aplicação direta ao uso da pele que ainda não fizemos. Existe uma oportunidade para o tratamento de fungos resistentes, o que pode ser bastante interessante”, finalizou o pesquisador.
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Fonte: Healthline.