Homens não são melhores que mulheres na capacidade de se orientarem espacialmente. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Limerick, na Irlanda. A análise investigou a rotação mental associada às competências de cognição espacial e descobriu que não há diferença causada por gênero no desempenho da habilidade.
O estudo Investigando Diferenças Sexuais, Esforço Cognitivo, Estratégia e Desempenho em uma Versão Computadorizada do Teste de Rotações Mentais via Rastreamento Ocular revelou que homens e mulheres frequentemente empregavam estratégias variadas de observação durante os testes cognitivos para obter a resposta correta. Ou seja, homens e mulheres abordam a tarefa de maneira diferente para chegar ao mesmo resultado.
A pesquisa contou com a colaboração de 47 mulheres e 53 homens para identificar a particularidade de desempenho entre os gêneros. Os participantes tinham entre 18 anos e 40 anos de idade, saúde em perfeito estado e cursavam graduação ou pós-graduação na universidade irlandesa. Todos tinham que avaliar versões de figuras geométricas em um computador e identificar quais eram rotações ou espelhos da figura original.
Os pesquisadores registraram os movimentos oculares para tentar determinar se a duração e a fixação usadas pelos participantes poderiam indicar alguma estratégia adotada. Também investigaram diferenças no esforço cognitivo realizado por homens e mulheres em tentativas em variadas dificuldades ao longo do teste.
Conclusões do estudo
Dr. Mark Campbell, um dos autores do estudo, disse em matéria da Universidade de Limerick que a habilidade de cognição espacial ou a capacidade de navegar em nosso ambiente tem sido um campo de batalha há quase 40 anos, pois muitos pesquisadores afirmavam que os homens têm uma vantagem de desempenho distinta nos testes de cognição espacial, principalmente no de rotação mental (MRT).
No entanto, à medida que mais pesquisas foram dedicadas ao estudo do desempenho da MRT, observou-se que, quando os critérios de administração do teste são manipulados, a diferença entre os gêneros diminui.
Pesquisas realizadas na Universidade Duke (Estados Unidos), Universidade de New Brunswick (Canadá), Universidade de Düsseldorf (Alemanha) e Universidade de Graz (Áustria) mostraram que, quando os participantes não têm tempo limitado, a diferença de gênero é significativamente reduzida e até abolida. Outros estudos mais recentes, das universidades Harvard e Cambridge, demonstraram que, quando os estímulos dos testes são trocados, o desempenho feminino não difere do de colegas do sexo masculino.
O atuação semelhante de homens e mulheres na MRT do estudo da Universidade de Limerick segue a mesma linha e contradiz afirmações anteriores de que a capacidade de rotação mental é marcada por grandes diferenças sexuais. Dr. Adam Toth, outro autor do estudo, resumiu os resultados para o site da universidade: “Então os homens são melhores que as mulheres? Bem, não, na verdade. Nosso estudo descobriu que não há vantagem masculina nas habilidades de rotação mental”.
Toth também afirmou que alterações nos métodos de testes geraram resultados diferentes em seu estudo. “Ao prolongar o tempo permitido para concluir o teste, a vantagem do desempenho masculino diminuiu completamente, sugerindo que a chamada diferença de sexo na rotação mental simplesmente não existe ou pode ser explicada por outros fatores”, concluiu.
O estudo avaliou que os testes de MRT são mais difíceis para participantes sem formação educacional associada à capacidade espacial superior, não importando o gênero.
Desigualdade de gênero afeta resultados
Uma pesquisa da University College London mediu o desempenho em habilidades espaciais por meio de um jogo para celular chamado Sea Hero Quest, desenvolvido exclusivamente para o estudo. O objetivo foi avaliar, pela primeira vez em escala global, a capacidade espacial da população e diferenças entre gênero e idade, por exemplo.
Mais de 2,5 milhões de pessoas entre 18 anos e 99 anos de idade em 195 países participaram da investigação científica. No entanto, a pesquisa analisou os dados de apenas 558 mil voluntários de 57 países que forneceram dados demográficos completos, como idade, gênero e nacionalidade, além de terem completado pelo menos nove níveis do jogo.
A análise dos dados encontrou uma relação entre a diferença do resultado de desempenho de navegação entre homens e mulheres e a desigualdade de gênero de seu país de origem. A pesquisa também indicou que a capacidade espacial da população de um país está correlacionada à riqueza econômica.
Fontes: Science Daily, Nature, University of Limerick, University College London, Current Biology.