Um grupo de 17 especialistas do mundo todo suspeita que a doença causada pelo novo coronavírus pode ser responsável pelo surgimento de diabetes em infectados. Em uma carta publicada pelo The New England Journal of Medicine, os pesquisadores ressaltam haver evidências de que complicações metabólicas severas originadas de formas mais graves da covid-19 não só exigem tratamentos com altas doses de insulina em pacientes do tipo, como também dão origem a novos casos.
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A diabetes se desenvolve quando a capacidade do organismo de regular níveis de glicose no sangue é comprometida a partir de danos nas chamadas células Beta, presentes no pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina. Também pode acontecer de o corpo se tornar resistente ao hormônio. Essas são as diabetes dos tipos 1 e 2, respectivamente.
Segundo os cientistas, baseados no fato de que um estudo em 2010 demonstrou que, de 39 pacientes contaminados pelo Sars-CoV-1, 20 deles não possuíam diabetes antes de serem infectados e apresentaram a condição após a síndrome respiratória, há indícios de que o mesmo ocorra com a doença que afeta o mundo todo nos dias atuais – existindo a possibilidade de uma segunda pandemia no horizonte.
Evidências preocupantes
Na publicação, os pesquisadores apontam para o fato de que muitos tecidos metabólicos fundamentais para o funcionamento regular do organismo contêm a proteína ACE2, identificada como receptora para a entrada do vírus nas células. O pâncreas é um deles.
Francesco Rubino, professor de cirurgia metabólica no King’s College London, no Reino Unido, explica: “Dado o curto período de contato humano com o Sars-CoV-2, a maneira como o microrganismo influencia o metabolismo da glicose ainda é um mistério. Não sabemos se a manifestação aguda de diabetes nesses pacientes representa o tipo 1, o tipo 2 ou uma nova forma da doença”.
“Desconhecemos a magnitude das ocorrências e se elas vão persistir após a infecção. Em caso afirmativo, precisamos entender o aumento dos riscos de diabetes no futuro. Por isso, criamos um banco mundial de dados e solicitamos que a comunidade médica internacional compartilhe observações clínicas relevantes que possam ajudar no esclarecimento dessas questões”, complementa Paul Zimmet, professor de diabetes na Universidade Monash, em Melbourne, Austrália.
O banco de dados ao qual Paul se refere é o CoviDiab Registry, voltado à coleta de informações para identificar a extensão dos casos e os melhores métodos para tratá-los.
Ceticismo na comunidade científica
Francesco Rubino alerta que a diabetes é uma das doenças crônicas mais disseminadas no planeta e que indicativos da relação da covid-19 com a condição sugerem a possível origem de uma nova pandemia. Entretanto, especialistas do Science Media Centre, em Londres, encaram as novidades com ceticismo, uma vez que consideram insuficientes as evidências apresentadas. Ainda assim, não descartam a necessidade de uma investigação mais aprofundada.
“Os dados observados podem ser confundidos por dois motivos. Por exemplo, sabemos que qualquer doença indutora de estresse pode aumentar temporariamente os níveis de açúcar no sangue, como ocorre nos ataques cardíacos. Além disso, pessoas com maior probabilidade de apresentar formas mais graves da covid-19 podem desenvolver diabetes de qualquer maneira, talvez por estarem acima do peso, pois a obesidade está associada a complicações”, explica Riyaz Patel, professor associado de cardiologia e consultor cardiologista no University College London Hospital, no Reino Unido.
Naveed Sattar, professor de medicina metabólica na Universidade de Glasgow, diz que seria necessário o acompanhamento de um a dois anos para entender a ligação entre as doenças. “Enquanto isso, devemos encorajar que as pessoas se dediquem a atividades físicas e alimentação saudável o máximo que puderem, para manter um peso adequado ou perder alguns quilos. Isso diminui os riscos de desenvolvimento de diabetes agora e futuramente.”
“Tais ações também reduzem as chances de manifestações severas de covid-19 no caso de contaminação”, finaliza.
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Fontes: MNT e UFRGS.