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A dissociação entre o mundo real e o fantasioso é uma das principais características da esquizofrenia, doença que acomete cerca de 1,6 milhão de brasileiros, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Episódios de alucinação podem acontecer como se fossem reais, levando a possíveis alterações em processos cognitivos, como a fala. A partir disso, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveram um sistema que analisa relatos espontâneos para identificar o distúrbio, contribuindo para o futuro do diagnóstico precoce.
Quais são os sintomas da esquizofrenia?
A esquizofrenia provoca diferentes tipos de sintoma nas pessoas que apresentam a condição. Especialistas os classificam em dois grupos, chamados de:
- sintomas positivos;
- sintomas negativos.
Os sintomas positivos estão relacionados à concepção da realidade, como delírios e alucinações. Já os negativos se relacionam com as emoções e podem alterar a afetividade, levando à indiferença ou até provocando reações exageradas.
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A esquizofrenia pode afetar a fala?
As relações da doença com a cognição ainda não são claras, mas pesquisas conduzidas em pessoas saudáveis e com o distúrbio identificaram que a esquizofrenia está presente nos neurônios e também nas células da glia.
Responsáveis, entre outros aspectos, por envolver a bainha de mielina, as células da glia têm importante impacto, podendo levar pessoas com quadro esquizofrênico a apresentar desconexão cerebral, desorganização dos pensamentos e confusões na fala.
Outras condições, como o Alzheimer e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), também podem apresentar alterações verbais, porém elas acontecem de forma mais sutil, de acordo com análises realizadas pelo sistema criado na UFRN.
Como funciona o sistema?
Desenvolvido por pesquisadores da UFRN, o sistema foi nomeado de SpeechGraph e usa a teoria matemática dos grafos para traduzir graficamente relatos espontâneos e identificar a relação entre as palavras expressadas.
No sistema, essas palavras são representadas por pontos ou nós e são ligadas por linhas. Quando um relato é inserido no sistema, forma-se um gráfico que demonstra a sua trajetória por meio das ligações entre pontos e linhas.
Para identificar como esses gráficos poderiam contribuir para o diagnóstico da esquizofrenia, os pesquisadores submeteram três grupos aos estudos com o SpeechGraph:
- pessoas saudáveis;
- pessoas com o distúrbio;
- pessoas com outros transtornos comportamentais.
Indícios do sistema que apontam para a esquizofrenia
Como a esquizofrenia gera desorganização mental e dificuldade de expressão verbal, a comparação com gráficos aleatórios, que não têm como base narrativas contadas por alguém, é um dos indicadores para o possível diagnóstico do distúrbio.
Se um relato apresenta palavras confusas e repetidas, o desenho do gráfico não é tão linear. Os grafos aleatórios também apresentam a mesma formação. Assim, os pesquisadores comparam esses com os gráficos de possíveis quadros esquizofrênicos para identificar se há semelhanças entre eles ou não.
Uma vez que a semelhança é percebida, entende-se que os relatos reais são frutos de uma confusão mental típica da esquizofrenia.
Outros fatores são importantes para complementar análise do sistema
Além da análise sistêmica da fala, alguns fatores devem ser considerados para aumentar a precisão do diagnóstico de esquizofrenia e de outras potenciais doenças. Esses fatores são:
- nível educacional;
- influência socioeconômica;
- diferenças linguísticas e culturais.
Especialistas apontam que o diagnóstico de esquizofrenia leva cerca de 2 anos para ser fechado, portanto a análise clínica inicial pelo SpeechGraph permite colaborar para um possível diagnóstico precoce, fazendo que pacientes passem menos tempo com sintomas positivos, como delírios, assim afetando menos a cognição.
No entanto, o sistema é complementar e não exclui nem substitui a necessidade do médico psiquiatra e demais profissionais direcionados à saúde mental.
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Fonte: Viva Bem, Correio Braziliense, Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade.