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Esterilização de ambientes com luz ultravioleta: como funciona?

A busca pela esterilização eficiente de ambientes e objetos é uma das linhas de pesquisa seguidas por cientistas ao redor do globo na luta contra a disseminação da covid-19. 

Devido à alta taxa de transmissão do coronavírus, que ocorre também pelo ar, é preciso encontrar maneiras de higienizar superfícies sem que o processo prejudique o meio ambiente e as pessoas ao mesmo tempo que se evita a criação de mutações mais resistentes. 

Uma das técnicas utilizadas atualmente é a aplicação de luz ultravioleta (UV-C), que, segundo especialistas, é altamente eficaz. 

“Ultravioleta é uma radiação eletromagnética, como a luz, só que em uma frequência diferente, extremamente poderosa para destruir microrganismos se eles forem expostos o suficiente”, apontou Vanderlei Bagnato, diretor do Instituto de Física de São Carlos, em vídeo publicado pela instituição. 

De acordo com a Comissão Internacional de Iluminação (CIE), em documento publicado em maio deste ano, a frequência em questão está na região entre 280 e 220 nm, e a energia contida no comprimento de onda do raio é absorvida pelo DNA/RNA de vírus, bactérias, leveduras e fungos, inativando-os e tornando-os inofensivos em segundos. 

“No caso do vírus, [o raio] é tão energético que, ao interagir com as ligações químicas, arrebenta-as”, ressaltou Bagnato.

Tal inativação, ainda segundo o professor, tem uma explicação já comprovada por estudos: “A luz ultravioleta produz a injeção de elétrons e a destruição de camadas, de membranas, além de material genético. Ela age em ligações que mantêm o DNA formado naquela ligação dupla. Portanto, promove o chamado desenovelamento do DNA, fazendo com que tudo se reorganize de forma desordenada.”

Luz ultravioleta é eficaz na eliminação de microrganismos diversos. (Fonte: Pexels)

Para todos os lugares

Ainda que tais aplicações já sejam estudadas há mais de 70 anos, era preciso descobrir se eram válidas contra o Sars-CoV-2, até então desconhecido. Felizmente, pesquisadores da Universidade Hiroshima, no Japão, descobriram que sim, já que conduziram testes com o uso de UV-C de 222 nm e chegaram a 99,7% de eliminação de culturas. 

O artigo contendo os resultados da análise foi publicado no American Journal of Infection Control. Considerando que a onda utilizada não é capaz de penetrar na camada externa não viva do olho humano e da pele, as células vivas abaixo dela não são prejudicadas – o que torna a novidade mais segura que as lâmpadas germicidas de 254 nm, utilizadas na desinfecção de instalações de saúde.

Hospitais, clínicas, escritórios comerciais, fábricas e residências podem se beneficiar da luz ultravioleta. De qualquer modo, normas amplamente testadas pela comunidade científica devem ser seguidas para que a eliminação de microrganismos ocorra conforme o esperado. 

“A radiação UV-C pode ser muito perigosa para humanos e animais e, portanto, só pode ser utilizada em produtos adequadamente projetados que cumpram com os regulamentos de segurança ou em circunstâncias muito controladas onde a segurança é a primeira prioridade”, destaca a CIE.

Uma das grandes vantagens desse tipo de abordagem é que, após finalizada a higienização, não há permanência de radiação no ambiente, ao contrário do que ocorre com o ozônio. Sendo assim, nem ocupantes nem equipamentos são afetados, se bem aplicada. 

Só para se ter uma ideia das possibilidades de uso da técnica, Vanderlei Bagnato conta que existem sistemas de descontaminação de água e de líquidos que circulam durante o transplante de órgãos. “A literatura médica está cheia de estudos mostrando quão mortífera a ultravioleta é para os vírus, inclusive o novo coronavírus”, ele indicou.

Técnica é aplicada a diversas situações, mas deve seguir padrões internacionais. (Fonte: Pexels)

Cada vez mais presentes

Engana-se quem acha que esse tipo de tecnologia está distante do uso cotidiano. Desde o início da pandemia, diversas empresas se dedicam ao lançamento de produtos cada vez mais adaptados ao dia a dia da população, a exemplo de câmaras de emissão de luz UV-C para celulares, com diversas funcionalidades para manter os usuários mais seguros contra a ameaça que circula pelo planeta. 

A CIE, entretanto, faz ressalvas quanto aos equipamentos: “A radiação ultravioleta deve ser usada com competência e com o devido cuidado em relação à dose e à segurança. O uso inadequado pode levar a problemas para a saúde e segurança humana, podendo resultar na desativação insuficiente de agentes infecciosos.”

“O uso doméstico não é aconselhável, e o UV-C nunca deve ser usado para desinfetar a pele, a menos que seja clinicamente justificado”, finalizou a entidade.

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Fontes: CIE, TechRadar, SciTechDaily, IFSC, Pexels.

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