Uma em cada 11 pessoas no mundo têm diabetes, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Cerca de 80% dos diabéticos vivem em países em desenvolvimento e emergentes; no Brasil, 16 milhões de pessoas apresentam essa condição. E a taxa de incidência têm aumentado ao longo dos anos, por conta da falta de exercícios e de uma dieta mais rica em calorias.
Após 20 anos de doença, mais de 90% dos diabéticos tipo 1 e 60% dos portadores do tipo 2 apresentam algum grau de alteração na retina. A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira de pessoas com idade entre 24 e 70 anos; e a detecção precoce pode evitar a perda total da visão. Entretanto, a doença geralmente não apresenta sintomas nos estágios iniciais, e o diagnóstico é realizado pelo oftalmologista por meio de um exame abrangente.
Um método a partir da câmera de smartphone pode tornar possível uma triagem sistemática ampla dos danos oculares. A técnica foi desenvolvida por cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, em colaboração com o Sankara Eye Hospital de Bangalore, na Índia. O uso do dispositivo permite o diagnóstico de forma barata e rápida, servindo como alternativa para países com infraestrutura precária de saúde.
Exame oftalmológico via smartphone
Em busca de uma maneira eficiente de utilizar o smartphone no exame oftalmológico, os pesquisadores testaram quatro abordagens para permitir a oftalmoscopia com um smartphone padrão de gama média. Foram testados 193 pacientes com diabetes recrutados em clínicas oftalmológicas no sul da Índia.
No entanto, nem todas as estratégias apresentaram um bom resultado. Três abordagens utilizaram a imagem de fundo com base em smartphone de forma direta, e uma abordagem empregou a mesma técnica, porém com o auxílio de uma lente adaptada.
A utilização da lente no smartphone produziu uma melhor qualidade de imagem e maior campo de visão. A técnica também apresentou concordância com o coeficiente Kappa de Cohen, bem como uma maior sensibilidade e especificidade para detectar retinopatia diabética. Essa abordagem permitiu a identificação de quase 80% dos olhos com alterações da retina, mesmo nos estágios iniciais. O dano avançado foi diagnosticado em 100% dos casos.
Realização por leigos
Optometristas do Sankara Eye Hospital foram treinados pelos cientistas para a realização dos exames para o estudo. Os assistentes oftalmológicos precisavam, em média, de um a dois minutos para fazer o exame, que envolve a documentação das alterações na retina, filmando a parte de trás do olho com uma câmera de smartphone.
O coautor do estudo, o Dr. Robert Finger, do Departamento de Oftalmologia do Hospital Universitário de Bonn, considera o método atraente porque não exige a presença do oftalmologista no momento da observação. “Isso significa que o exame também pode ser realizado por leigos treinados”, afirmou Finger no comunicado à imprensa divulgado pela Universidade de Bonn. “As imagens são enviadas pela internet ao oftalmologista para diagnóstico”, completa.
“A covid-19 exigiu ainda a necessidade de explorar métodos de redução de pacientes que visitam o hospital. Essa modalidade é promissora no aumento da eficiência da triagem de alterações da retina em diabéticos”, acrescentou o coautor Dr. Mahesh P. Shanmugam, chefe da VitreoRetina & Oncologia Ocular, da Fundação Sankara Eye.
Pré-diagnóstico com Inteligência Artificial
O próximo passo dos pesquisadores é permitir que a Inteligência Artificial realize um pré-diagnóstico das imagens obtidas pela câmera do celular. Os cientistas alemães estão desenvolvendo um aplicativo em colaboração com seus colegas indianos para possibilitar a criação de um arquivo eletrônico criptografado de cada paciente examinado.
O programa armazena não apenas as imagens, mas também as descobertas do médico que as revisou. A partir desses banco de dados, será possível realizar uma pré-avaliação automática das imagens usando Inteligência Artificial, pois um software pode aprender a reconhecer alterações patológicas de forma independente com base em milhares de imagens da retina. O projeto foi contemplado recentemente com o “Prêmio bytes4diabetes”, por abordagens digitais inovadoras na luta contra o diabetes.
Ampliação do diagnóstico em países de baixa renda
Os autores do estudo esperam que seu trabalho melhore o atendimento oftalmológico nos países em desenvolvimento e emergentes. Os cientistas afirmam que a técnica pode ajudar a aliviar o fardo da triagem de retinopatia diabética em países de baixa e média renda. Os resultados da pesquisa permitem uma melhor seleção de modelos de smartphone e dispositivos acessórios para testes de campo.
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Fontes: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Diabetes, Universidade de Bonn e Ophathalmology