Transtornos psiquiátricos afetam o humor, o raciocínio e o comportamento de milhões de brasileiros. Entre os mais comuns e, ao mesmo tempo, menos compreendidos está a esquizofrenia. Ao que tudo indica, a falta de oxigênio durante a gestação pode ter alguma relação com o desenvolvimento da doença.
O que é a esquizofrenia?
É uma doença que costuma começar a apresentar sinais entre os 18 anos e os 30 anos de idade. Atualmente, cerca de dois milhões de pessoas sofrem de esquizofrenia no Brasil, e 1% da população mundial é afetada pelo transtorno. Também conhecida como distúrbio da mente dividida, a esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico causado por alterações no cérebro; por ser crônica, exige tratamento durante toda a vida.
É um transtorno marcado pela dificuldade de produção de pensamentos simbólicos e abstratos, de distinguir o que é realidade e o que é uma alucinação e, também, de elaborar respostas emocionais complexas.
Existem quatro tipos da doença: a paranóide, em que predominam alucinações e delírios; a hebefrênica, em que são comuns pensamentos e discursos desconexos; a catatônica, em que a pessoa apresenta alterações na postura e tende a ficar em posições atípicas por um longo período; e a simples, na qual a pessoa perde progressivamente a afetividade e a capacidade de interagir.
Falta de oxigênio na gestação
Uma pesquisa coordenada pela professora Tatiana Rosado Rosenstock analisou a hipótese de que a falta de oxigênio antes do parto seja um fato causador da esquizofrenia. Segundo o estudo, é comum que gestantes com pré-eclâmpsia, um distúrbio de pressão arterial, sofram desse problema.
A pesquisa foi feita por meio de experimentos com ratos. Os cientistas descobriram que os ratos provenientes de mães com hipertensão (condição que gera a hipoxia durante a gestação) apresentaram comportamentos equivalentes aos sintomas de esquizofrenia nos humanos.
O artigo foi publicado na revista Scientific Reports e produzido na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). A professora Tatiana contou com a ajuda de Luiz Felipe Souza e Silva, Mariana Dutra Brito e Jéssica Mayumi Camargo Yuzawa. O intuito da pesquisa é entender como a falta de oxigênio promove o transtorno e tentar evitar que o dano cerebral aconteça.
A hipótese é de que a hipoxia, como é chamado o momento em que falta oxigênio para o bebê, afeta os astrócitos, que são as células mais abundantes do sistema nervoso central e metabolizam o neurotransmissor glutamato (relacionado com a esquizofrenia).
Essa falta de oxigênio causa nos astrócitos uma alteração no funcionamento das mitocôndrias, que são importantes para a produção de energia celular. Outra questão que as células apresentam é uma maior captação de cálcio, que pode gerar a morte das células por meio do aumento do estresse oxidativo.
Assim, trabalhos que analisem essas reações devem buscar uma forma de impedir o que gera essa falha nas mitocôndrias e, desse modo, evitar que o cérebro dos bebês seja afetado durante a pré-eclâmpsia. Portanto, o entendimento e o aprimoramento dessa pesquisa da FCMSCSP podem ser importantes aliados na compreensão e na prevenção da esquizofrenia.
Fontes: Scientific Reports, Uniica, Minha Vida.