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Mutações genéticas revelam início do surto de coronavírus no mundo

Um novo estudo da University College of London (UCL) analisou 7,7 mil amostras de pessoas infectadas com covid-19 e caracterizou padrões de diversidade do genoma do novo coronavírus. A partir de estimativas filogenéticas, cientistas estimam que o vírus começou a infectar seres humanos entre 6 de outubro e 11 de dezembro de 2019.

A pesquisa identificou 198 locais no genoma do Sars-Cov-2 que parecem já ter sofrido mutações recorrentes e independentes com base em uma análise em larga escala de conjuntos públicos de genoma. A diversidade de cepas do coronavírus em muitos países mostra a sua diversidade global e a ocorrência de uma introdução múltipla do vírus em regiões que apresentam eventos de transmissão local.

O estudo, publicado na revista científica Infection, Genetics and Evolution, afirma que as mutações recorrentes detectadas podem indicar uma adaptação contínua do vírus ao seu novo hospedeiro humano. O monitoramento do acúmulo e dos padrões de diversidade genética no coronavírus tem potencial para abrir caminhos para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas.

Transmissão do coronavírus no mundo

Estudo indica múltiplas entradas independentes do coronavírus nos países e aponta para a inexistência de um único “paciente zero” em cada local. (Fonte: Shutterstock)

A análise dos dados da sequência genética de patógenos é cada vez mais reconhecida como uma ferramenta importante na epidemiologia de doenças infecciosas, de acordo com os pesquisadores. O sequenciamento genético evidencia os principais parâmetros epidemiológicos do vírus, como tempo de duplicação de um surto, reconstrução das rotas de transmissão e identificação de possíveis fontes e reservatórios de animais.

Os resultados do novo estudo se somam a um crescente corpo de evidências de que as versões do Sars-Cov-2 compartilham um ancestral comum a partir do fim de 2019. Isso significa que é muito improvável que o vírus causador da covid-19 estivesse em circulação humana por muito tempo antes de ser detectado pela primeira vez.

Uma grande proporção da variedade genética global do coronavírus foi encontrada pela equipe de pesquisa em todos os países mais atingidos. Esse fato sugere que houve uma extensa transmissão global desde o início da epidemia e aponta a inexistência de um único “paciente zero” na maioria dos locais.

No Reino Unido, nos Estados Unidos, na China, Islândia e Austrália, a diversidade das amostras foi quase a mesma encontrada em todo o mundo. Os cientistas afirmaram que isso significa que o vírus entrou nos países diversas vezes de forma independente, não sendo espalhado por uma única pessoa infectada.

Mutação no genoma do vírus

Entender a evolução das mutações genéticas do Sars-CoV-2 pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos e vacinas contra a covid-19. (Fonte: Shutterstock)

O coautor do estudo, professor François Balloux, explicou em um comunicado da UCL à imprensa que todos os vírus sofrem mutação naturalmente: “Mutações em si não são uma coisa ruim, e não há nada que sugira que o Sars-Cov-2 esteja sofrendo mutações mais rápidas ou mais lentas do que o esperado. Até agora, não podemos dizer se o vírus está se tornando mais ou menos letal e contagioso”.

As pequenas alterações genéticas identificadas não foram distribuídas uniformemente pelo genoma do vírus. Como algumas partes tinham poucas mutações, os pesquisadores afirmaram que essas porções invariantes do coronavírus poderiam ser melhores alvos para o desenvolvimento de remédios e vacinas.

“Um grande desafio para derrotar a covid-19 é que uma vacina ou um medicamento podem não ser mais eficazes se o vírus sofrer mutação. Se concentrarmos nossos esforços em partes do vírus com menor probabilidade de sofrer mutação, teremos uma chance maior de desenvolver medicamentos que serão eficazes no longo prazo”, explicou Balloux.

Aplicativo para revisão de mutações

Os cientistas defendem que o atual estudo é apenas um trabalho inicial para facilitar as pesquisas e a interpretação dos padrões observados. Mais dados devem continuar sendo disponibilizados, o que permitirá uma investigação contínua pela comunidade científica.

Para permitir novas avaliações, a distribuição atual da diversidade genômica, bem como as mudanças contínuas na frequência dos alelos e ao longo do genoma do coronavírus estão disponíveis publicamente como um recurso aberto na internet. A equipe de pesquisa desenvolveu um aplicativo interativo para que cientistas de todo o mundo possam revisar a genética do vírus e aplicar abordagens semelhantes para entender melhor a sua evolução, contribuindo para a criação de tratamentos e vacinas contra a doença.

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Fontes: University College London, ScienceDirect e Reuters.

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