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O debate sobre tomografias no diagnóstico da covid-19

Over the shoulder view of senior doctor examining chest x-ray image

Entre os esforços necessários para combater a pandemia de covid-19, a testagem em massa do maior número possível de casos suspeitos e o isolamento das pessoas infectadas são as estratégias mais defendidas pelas autoridades de saúde. Isso se torna um problema quando o exame mais difundido para detectar a presença do novo coronavírus no organismo, o RT-PCR, não está disponível em muitos locais e tem sua confiabilidade questionada em diversos estudos.

Em vista disso, muitos estudiosos estão sugerindo o uso de tomografias computadorizadas (TC) como método alternativo para diagnosticar a covid-19. Contudo, essa opção é vista com bastante ceticismo por uma relevante parcela da comunidade médica.

Tomografias computadorizadas estão no centro do debate sobre covid-19 (Fonte: Unsplash)

Testes com swabs são pouco confiáveis, afirma médico

O portal médico estadunidense Medical News Today convocou dois especialistas com pensamentos opostos sobre o uso da TC no diagnóstico da covid-19 para exporem seus pontos de vista no mesmo artigo. O primeiro argumento do defensor da TC, Dr. Joseph Fraiman, de Nova Orleans, é a baixa confiabilidade dos testes RT-PCR, no qual são colhidas amostras da faringe com swabs para detectar a presença ou não do material genético (RNA) do Sars-CoV-2.

Segundo Fraiman, estimativas otimistas da American College of Radiology (ACR) apontam confiabilidade de 42% a 71% para o RT-PCR, mas estudos chineses sugerem taxa de acerto ainda menor, em torno de 30%. Além disso, há o problema da falta de exames e o tempo que eles podem demorar para serem analisados.

Os testes rápidos, que detectam a presença de antígenos ou anticorpos no organismo por meio de uma reação química das amostras com uma lâmina de nitrocelulose, mesmo que resolvessem o problema da disponibilidade e do período de análise, seriam ainda menos confiáveis. De acordo com informações do Ministério da Saúde brasileiro, a taxa de erro desse sistema pode ser de 75% para casos negativos.

Dessa maneira, Fraiman alerta que confiar nesses testes pode resultar na “rápida liberação de pacientes com covid-19, permitindo que eles convivam com pessoas não infectadas e possivelmente vulneráveis”. Seguindo esse raciocínio, o uso das tomografias computadorizadas, já disponível na maioria dos centros de saúde, seria uma forma mais eficaz de diagnosticar e isolar rapidamente os casos de covid-19.

Diversos artigos publicados na China apontam até 90% de acerto nos diagnósticos de covid-19 com TC. Por mais que existam falsos positivos, ter uma “supernotificação” seria mais benéfico no combate à pandemia do que o atual cenário, em que os casos muito provavelmente estão subnotificados.

Testes com amostras não são 100% confiáveis, aponta médico norte-americano. (Fonte: Freepik)

TC ajuda, mas não serve como diagnóstico

Para refutar a visão de Fraiman, o jornal Medical News Today recrutou o Dr. Mark Hammer, que trabalha no Brigham and Women’s Hospital da Harvard Medical School. Embora ele reconheça as limitações dos testes RT-PCR, como baixa disponibilidade, demora nos resultados e confiabilidade aquém do ideal, pondera que as TCs como método de diagnóstico são ainda menos confiáveis.

O especialista questiona os artigos chineses citados pelos defensores do diagnóstico com TC por não oferecerem detalhes de quais tipos de alterações nos exames podem ser interpretados como sinais da covid-19. Por mais que a pneumonia seja um dos sintomas mais conhecidos da doença e possa ser detectada com TC, nem todos os pacientes a desenvolvem. Além disso, alterações pulmonares podem ser sinais de várias outras doenças, que deixariam de receber um diagnóstico correto porque os médicos estavam mais preocupados com a covid-19, na visão de Hammer.

Uma linha de pensamento semelhante é sugerida por um estudo realizado no Brasil, no Hospital Israelita Albert Einstein, e publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia. Especialistas analisaram TCs de 12 pacientes com suspeita de covid-19 e não conseguiram encontrar diferenças claras que permitissem diagnosticar a doença apenas por esses exames.

O artigo conclui que “TC do tórax pode ajudar no diagnóstico dessa doença, porém não pode isoladamente confirmá-lo nem excluí-lo”. Assim, é recomendado o uso das tomografias para acompanhar a evolução do quadro clínico dos pacientes e para complementar os testes RT-PCR, mas não como método único de avaliação. Quanto à baixa confiabilidade dos exames, os especialistas ponderam que “se esse teste for negativo e a suspeita clínica for alta, a recomendação é de que ele seja realizado novamente, inclusive em material obtido de outros sítios respiratórios”.

Qual é a recomendação das autoridades sobre o assunto?

A visão de que as TCs podem apenas auxiliar, mas não confirmar, os diagnósticos de covid-19 é compartilhada pela maioria das autoridades de saúde. Essa é a recomendação do ACR e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo.

Uma nota publicada em março por diversas sociedades científicas da área, incluindo o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), indica expressamente que não se deve utilizar a tomografia de tórax como único parâmetro para detectar a doença nem para retirar do isolamento os casos suspeitos. “É preciso contextualizar de forma adequada os achados tomográficos com o quadro clínico e exames moleculares e/ou sorológicos quando disponíveis”, concluíram os especialistas.

Indo na contramão dessas recomendações, o Ministério da Saúde brasileiro está estudando uma atualização nos seus protocolos para permitir diagnósticos por tomografia. Segundo publicação da agência de notícias Reuters em 7 de maio, representantes do governo acreditam que isso poderia otimizar a vigilância epidemiológica em locais em que os testes RT-PCR não estão disponíveis.

Fontes: Medical News Today, Jornal Brasileiro de Pneumologia, Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Ministério da Saúde/Governo Federal, Agência Reuters (via Money Times) e Ministério da Saúde.

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