Além de afetar a memória e aumentar os riscos de demência, dormir pouco pode levar à redução da eficácia em alguns tipos de vacina. É o que sugere o estudo realizado por uma equipe de autores internacionais, cujos resultados foram publicados na revista Current Biology em 13 de março.
Inspirados por pesquisas que já indicavam essa possibilidade, os cientistas da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e do Instituto Nacional Francês de Saúde e Medicina de Lyon, na França, entre outras instituições, revisaram dados de sete estudos. As informações eram referentes às vacinas contra gripe e hepatite.
Nesta nova investigação, as respostas de anticorpos de pessoas que dormiam de sete a nove horas foram comparadas com as de indivíduos que tinham no máximo seis horas de descanso por noite. Os dados analisados pertenciam a pessoas sadias, com 18 anos ou mais.
A análise apontou que os indivíduos com poucas horas de sono nos dias anteriores à vacinação apresentaram resposta imune reduzida na comparação com o outro grupo. A diminuição é semelhante ao declínio do nível de anticorpos do imunizante da Pfizer/BioNTech contra covid-19 cerca de dois meses após a injeção, segundo o artigo.
Homens são os mais impactados
Ainda conforme os autores da pesquisa, a relação entre poucas horas de sono e a redução no efeito das vacinas é mais forte nos adultos de 18 a 60 anos, como sugerem os dados analisados. E em meio a esse grupo, os homens são os principais impactados pela diminuição na resposta dos anticorpos.
Já as mulheres, nas quais a imunidade sofre influência do ciclo menstrual e dos contraceptivos, mostraram-se menos suscetíveis às mudanças provocadas pela quantidade de sono. Não se sabe o motivo dessa diferença, mas uma das possibilidades levantadas é a ausência de dados sobre os níveis de hormônios sexuais.
O estudo considerou apenas as informações da imunização contra influenza, que afeta o sistema respiratório, e hepatite (A e B), cujo alvo é o fígado. Entretanto, os pesquisadores acreditam que os mesmos efeitos na resposta imunizante possam se estender a todos os tipos de vírus.
Dessa forma, as vacinas contra covid-19 também apresentariam uma resposta imune menor em quem dorme pouco. Apesar das descobertas, os especialistas dizem ser necessárias novas pesquisas para identificar a quantidade exata de horas de sono para melhores resultados e desvendar o papel dos hormônios sexuais.
Melhorando os efeitos da vacina
Se dormir pouco reduz a eficácia da vacinação, afetando a produção de anticorpos, uma forma de melhorar a resposta imune é otimizar a duração do sono. Segundo a professora da Universidade de Chicago, Eve Van Cauter, aumentar a quantidade de horas dormidas alguns dias antes da imunização pode trazer bons resultados.
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“Um bom sono não apenas amplifica, mas também pode estender a duração da proteção da vacina”, afirmou a coautora do estudo.
Fonte: The Guardian, Current Biology