Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, descobriram uma proteína que pode imitar os efeitos do exercício físico. A proteína Sestrin pode ajudar a combater a perda muscular devido ao envelhecimento e a outras causas.
A principal motivação do estudo foi o crescimento da população de idosos no mundo, cujo número global, que foi de 962 de milhões em 2017, deve chegar a 1,4 bilhão em 2030 e a 2,1 bilhões em 2050, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU).
A perda de mobilidade é uma das principais preocupações relacionadas ao envelhecimento e ocorre tanto por razões diretas de saúde, como prevenção de quedas, quanto por razões psicológicas, como satisfação pessoal. O desenvolvimento de tratamentos econômicos que possam preservar a independência e a capacidade de mobilidade saudável dos idosos teria, portanto, um efeito cumulativamente positivo, influenciando muitos aspectos das saúdes mental e física.
A atividade física está entre as medidas mais eficazes para combater o declínio da mobilidade associado a idade e desregulação metabólica. Compreender quais são os fatores que provocam os benefícios relacionados a exercícios pode abrir caminho para que sejam criados tratamentos mais eficazes e baratos.
Proteína Sestrin
As sestrinas são pequenas proteínas encontradas em todo o reino animal; em mamíferos, estão presentes predominantemente nos músculos esqueléticos e cardíacos. A proteína Sestrin é expressa em situações de estresse e é importante para manter a homeostase metabólica, protegendo as células contra disfunções fisiológicas relacionadas à idade.
A falta dessa proteína resulta em perdas orgânicas, como degeneração muscular, acúmulo de gordura, disfunção mitocondrial e resistência à insulina. Estudo desenvolvido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstrou que em camundongos a quantidade da proteína Sestrin aumentou devido aos exercícios físicos, podendo funcionar como antioxidante para reduzir o dano nas células.
Dessa forma, os cientistas brasileiros concluíram que a atividade física pode ser uma importante estratégia para prevenir doenças causadas pelo estresse metabólico.
Uma pesquisa do Instituto Nacional em Envelhecimento dos Estados Unidos sugere que exercícios de resistência têm efeitos substancialmente protetores em vários índices de saúde e promovem a ampliação da expectativa de vida e o combate a doenças relacionadas à idade. No entanto, nenhum estudo anterior observou quais eram os reais papéis genéticos e fisiológicos da proteína Sestrin na resposta ao exercício físico.
A equipe dos professores Jun Hee Lee e Myungjin Kim, ambos do Departamento de Fisiologia Molecular e Integrativa da Universidade de Michigan, resolveu concentrar a pesquisa em quais são os mecanismos da ligação aparente entre a proteína e a atividade física.
Exercício físico
Para verificar como a Sestrin atua nos organismos, os cientistas de Michigan colocaram moscas e camundongos para se exercitar e aplicaram a proteína em indivíduos que não realizaram exercícios. Foram utilizados animais normais e alterados com a retirada do gene responsável pela produção natural da sestrina.
A proteína se mostrou um fator essencial para que os exercícios ofereçamresultados positivos no organismo. A retirada dos genes da proteína de camundongos e moscas impediu que apresentassem benefícios metabólicos do exercício e que melhorassem a resistência por meio de treinamento. Camundongos modificados sem Sestrin não tinham capacidade aeróbica aprimorada, respiração aperfeiçoada e queima de gordura, que normalmente são associadas ao exercício.
Já a aplicação de Sestrin imitou os efeitos moleculares e fisiológicos do exercício. Isso sugere que a proteína foi um dos principais responsáveis pelos efeitos no metabolismo durante a “ginástica” realizada em laboratório. Quando os músculos de moscas normais, sem exercício, foram superexpressados com Sestrin, atingindo os níveis máximos da proteína, os animais apresentaram habilidades acima e além das moscas em treinamento.
Os músculos das moscas apresentaram forte aumento da resistência à corrida, inclusive com efeito quantitativo maior que o próprio exercício. Apesar de os estudos serem promissores quanto ao entendimento do papel da sestrina no organismo, suplementos da proteína para humanos estão longe de se tornarem realidade. Para que isso seja possível, é necessário encontrar moduladores de pequenas moléculas da sestrina e aprofundar os estudos sobre o mecanismo dela em humanos.
Fontes: Nature, Science Daily, ONU, Unicamp, National Institute On Anging.