Apesar de ter entrado em evidência recentemente no Brasil, a telemedicina e suas modalidades fazem parte do rol de preocupações do Conselho Federal de Medicina (CFM) há quase 20 anos – e a rápida adesão de diversas instituições à modalidade foi deflagrada pela pandemia da covid-19.
Em 2019, havia surgido uma nova proposta de regulamentação da área, que substituiria a implantada em 2002 e passaria por análise cuidadosa até que fosse definitivamente implantada.
Entretanto, dado o cenário mundial sem precedentes e visando proteger a população, além de facilitar seu acesso a acompanhamentos profissionais, ações foram colocadas em prática às pressas, sendo, sobretudo, provisórias, mas mantidas até que a situação volte ao normal.
No quarto dia do Summit Saúde 2020, especialistas refletiram sobre os efeitos do novo coronavírus em atendimentos remotos no Brasil. Donizetti Dimer Giamberardino, vice-presidente do CFM, afirma que todo aprendizado será levado em conta nos estudos que estão em andamento para a criação de legislação definitiva, e a expectativa é que esteja pronta já no período pós-pandêmico.
Além disso, as práticas remotas aprovadas pela entidade devem “continuar respeitando os limites da responsabilidade, da segurança e da ética”, e a abordagem virtual não vai, de maneira alguma, substituir médicos. Trata-se de um benefício adicional ofertado aos pacientes. “Sem médico não há telemedicina”, destacou Giamberardino.
Transição acelerada
Para aqueles que temiam o distanciamento entre profissionais e pacientes, a adaptação foi surpreendentemente positiva. De acordo com Tereza Veloso, diretora Técnica Médica e de Relacionamento com Prestadores da SulAmérica, a pandemia permitiu uma interação completa entre os envolvidos – e o que surgiu de novo foi justamente a possibilidade de realização de consultas completas.
Se antes, afirma Veloso, a rede para a qual atua prestava cerca de 500 atendimentos do tipo por mês, o número saltou para mais de 400 mil entre março e outubro. Nove em cada dez são resolvidos exclusivamente com a metodologia. A tendência é que o movimento continue.
Adaptações em centrais telefônicas e implementação de serviços de triagem por aplicativos, incluindo de mensagens, foram algumas das iniciativas que se provaram úteis.
Obviamente, a atuação não se restringe, apontou Tereza, ao ambiente virtual, já que, se necessário, é realizado o encaminhamento para consulta presencial – com a diferença de que, nesses casos, as indicações são previamente analisadas, o que as torna muito mais assertivas e diminui gargalos comumente encontrados em métodos tradicionais. “O sistema implantado é um conjunto que facilita o acesso”, ela defendeu.
Felizmente, aqueles que já haviam-se dedicado à instalação de infraestruturas remotas se beneficiaram de uma transição suave para atender às novas demandas. Carolina Pampolha, head médica de operações da Docway, plataforma que conecta médicos e pacientes, detalha que, no Brasil, existia uma cultura de ida a hospitais ao menor sinal de problema e que isso, aos poucos, está mudando.
De qualquer modo, o movimento deu uma nova dimensão a prestadores de serviço, já que suas responsabilidades também aumentaram, citando como exemplo a necessidade de acompanhamento constante mesmo com o isolamento de pacientes crônicos.
Com o objetivo de garantir a integridade de todos os públicos, treinamentos foram realizados na Docway para que médicos desenvolvessem as competências adequadas de atuação tanto remota quanto presencial. Com o tempo, pacientes se sentiram mais seguros e confortáveis com o atendimento.
Aprendizado constante
Rogério Carballo, gerente médico de novos negócios e telemedicina do Hospital Infantil Sabará, explica que, além da avaliação estritamente médica, com a telemedicina o ambiente domiciliar também entra na equação, o que otimiza diagnósticos. E mais, ele defende que existe a possibilidade de diálogo com outras áreas da saúde, o que redefine o conceito de multidisciplinaridade.
Por fim, tratando-se de uma experiência nova para muitos, Carballo salienta que os desafios são os mesmos em todo o mundo – mas que, no Brasil, a maior dificuldade é acompanhar a evolução, que deve chegar, especialmente, ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo esse público o que mais tem a ganhar com a adoção da telemedicina.
Adaptações, ressaltam os participantes do evento, devem ocorrer a todo momento, já que esta é uma fase de regulamentação e decantação (eliminação posterior daqueles que não atendam aos requisitos), mas uma coisa é certa: “O caminho se faz caminhando”, finalizou Donizetti.
Fontes: Summit Saúde 2020, Shutterstock.