O apagão no Amapá, iniciado no começo de novembro, gerou uma situação caótica para mais de 700 mil habitantes de 13 dos 16 municípios do estado. A falta de energia elétrica provocou a interrupção do abastecimento de água e de serviços básicos de comunicação e impactou diretamente a saúde dos amapaenses.
O problema foi causado durante uma tempestade ocorrida na noite de 3 de novembro, que gerou a explosão de um transformador da subestação em Macapá seguida de incêndio que danificou outra peça em operações. Apesar da ajuda enviada pelo governo federal ao estado, o fornecimento continua intermitente em várias regiões.
O sistema de energia elétrica é fundamental para a manutenção de todos os equipamentos hospitalares. A situação reforça a importância da utilização de geradores elétricos para a garantir o atendimento em unidades de saúde, em especial durante uma pandemia.
Saúde no Amapá durante crise elétrica
Durante o apagão, a maior maternidade pública do Amapá, que funciona no Hospital da Mulher Mãe Luzia, ficou sem energia elétrica por não ter geradores. Dois partos estavam acontecendo quando a iluminação e os equipamentos foram desligados, e os profissionais de saúde tiveram de utilizar as luzes de aparelhos celulares para auxiliar os nascimentos.
No dia seguinte ao apagão, a energia foi priorizada nos hospitais com geradores, e os equipamentos continuaram sendo fundamentais mesmo após o início do reestabelecimento parcial do fornecimento de eletricidade. Enquanto diversas áreas passam por rodízios de seis horas, o abastecimento de energia tem sido permanente nas áreas de hospitais. Apesar disso, ainda há oscilação em unidades básicas de referência para o combate à covid-19.
Desde o início da crise elétrica, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Zona Norte de Macapá, no bairro Novo Horizonte, é auxiliada por um gerador que precisa ser ligado manualmente quando há pico de energia. Funcionários do hospital afirmaram ao Estadão que o atendimento não é prejudicado porque equipamentos como respiradores têm baterias que são acionadas entre a queda da luz e a ativação do gerador.
Agravamento da pandemia
O número de casos de infecções por coronavírus, que já era significativo no estado, deve piorar com a falta de energia, e as autoridades sanitárias locais não estão conseguindo manter atualizados os dados de casos de covid-19. A falta de informação afeta negativamente o gerenciamento do sistema e torna ainda mais difícil planejar a necessidade de leitos em um cenário que nem todas as unidades estão com acesso a energia elétrica.
Durante o ápice do apagão, os poucos hospitais que puderam utilizar gerador elétrico para atender aos pacientes acabaram ficando sobrecarregados, causando situações ainda mais extremas por conta da pandemia de covid-19. Na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Universitário, por exemplo, onde também são atendidos pacientes com suspeita de infecções por coronavírus, os enfermeiros chegaram a precisar bloquear a visão dos internados enquanto equipes de serviços funerários saíam com corpos em caixões lacrados.
Falta de água
Apesar da volta parcial da eletricidade, o fornecimento de água não foi totalmente regularizado. Enquanto nos hospitais banhos e lavagem de roupas e máscaras estão menos frequentes em decorrência da escassez, a população improvisa para se hidratar em temperaturas que podem chegar a 40 °C durante a noite, cozinhar, lavar louça e roupas e manter a higiene pessoal.
Quem não tem dinheiro para pagar por galões inflacionados procura doações, poços artesianos e até mesmo o Rio Amazonas. Por conta da situação, o governo amapaense prevê um surto de doenças diarreicas agudas devido à qualidade da água que está sendo consumida e das condições dos alimentos.
Gerador elétrico no sistema de saúde
Desde 2001, a instalação de geradores em unidades do sistema de saúde é prevista pelo Programa Nacional de Ampliação de Acesso a Fontes Alternativas de Geração e Fornecimento de Energia Elétrica. Nesse contexto, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) padronizaram o Manual de Segurança no Ambiente Hospitalar com o objetivo de assegurar que todos esses locais tenham um sistema integrado de emergência para atuar em casos de queda ou interrupção de energia.
De acordo com o manual, hospitais devem manter geradores elétricos para atender às áreas de pacientes pelo menos nos centros cirúrgicos e nas UTIs. Além disso, a unidade de saúde deve ter um sistema de baterias com autonomia de várias horas, visando substituir o grupo gerador em caso de falha, destinado somente às áreas em que a vida do paciente dependa de energia elétrica.
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Fonte: Estadão, Amazônia Real, Ministério da Saúde, Genrent, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).