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O combate à varíola é um marco na história da epidemiologia. Foi contra essa doença que o médico Edward Jenner desenvolveu o primeiro dispositivo semelhante à vacina, ainda no século 19. O sucesso foi tão grande que o vírus não circula mais hoje, portanto a doença é considerada erradicada. O último caso registrado é de 1977, segundo o Ministério da Saúde.
Mas então por que a varíola do macaco voltou a circular em 2022? Trata-se de uma variante da varíola comum? A vacina contra uma protege contra a outra? Em meio a tantas dúvidas, é hora de retomar o assunto e conferir as principais dúvidas sobre o tema.
Entenda mais da varíola comum
Qual é a origem da varíola?
A varíola é causada por um vírus chamado Orthopoxvirus variolae, que é bastante resistente. Não à toa, ele acompanha a humanidade por muitos séculos, e os primeiros registros de sintomas relacionados a esse vírus são de antes da era cristã, na Ásia e na África.
De acordo com Hermann Schatzmayr (1936-2010), que foi um dos principais virologistas do País e pesquisador do Departamento de Virologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), ela foi uma das principais causas de mortalidade indígena ainda no século 16.
Os astecas, no México, foram dizimados por conta da infecção rápida desse vírus. O mesmo ocorreu no Brasil a partir de 1563, na região de Salvador, com a população indígena, segundo artigo do pesquisador da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Como a varíola é transmitida?
A transmissão da varíola ocorre de uma pessoa para outra, por meio de inalação do vírus ou do contato direto com objetos contaminados. A infecção é muito contagiosa nos primeiros dez dias após o aparecimento de erupções cutâneas e, assim, ao formarem crostas, tornam-se menos contagiosas.
Como funciona a prevenção contra a varíola?
A vacina contra o vírus Orthopoxvirus variolae é a principal forma de prevenção contra a doença. O controle vacinal foi tão eficaz que não se vê nenhum caso nas Américas há 50 anos e, hoje, ela sequer faz parte do esquema vacinal do Ministério da Saúde.
“Essa vacina não faz parte do calendário há mais de 40 anos. Não está disponível em unidades de saúde ou clínicas privadas. Dado o pequeno número de casos e baixa transmissão, não há indicação de vacinação”, explica Marcelo Ducroquet, infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP).
A Revolta da Vacina, por exemplo, ocorreu na primeira década do século 20, no Rio de Janeiro, e aconteceu por conta do combate à varíola.
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Quais são os sintomas da varíola?
Quando o vírus circulava entre a população, a varíola provocava problemas sérios. Os primeiros sintomas eram febre, mal-estar, prostração, cefaleia e dor lombar. Na sequência, surgiam feridas na pele, caracterizando erupções que surgiam e iniciavam a cicatrização em um ciclo de até 15 dias — o suficiente para tornar a doença muito contagiosa.
A literatura relata também que os casos mais graves podem causar cegueira, infecções nos ossos e nos pulmões e, por conta desse último elemento, até morte por broncopneumonia pode acontecer.
Conheça mais da varíola do macaco
Em maio de 2022, os casos de varíola do macaco explodiram no mundo, acendendo um alerta. Mas, afinal, o que se sabe sobre essa variante viral?
Ducroquet explica que a varíola comum e a dos macacos são da mesma família e têm sintomas similares, que consistem principalmente no surgimento de lesões na pele e febre.
Essa nova variante da varíola acomete principalmente os primatas africanos. Foi registrada em humanos no Congo, em 1970, e na Nigéria mais tarde, em 2017. Mas, se a origem é parecida, o nível de preocupação não precisa ser o mesmo.
“A varíola comum era altamente contagiosa e letal, sendo transmitida pelo ar e podendo levar a óbito mais de 30% dos infectados. Já a varíola dos macacos leva a óbito menos de 1% dos pacientes e é transmitida apenas por contato direto”, explica o infectologista.
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Como prevenir e tratar a varíola do macaco?
De acordo com dados preliminares, a vacina contra a varíola comum dá conta de proteger o corpo de novas variantes, mas o que fazer se não há vacinas disponíveis?
O primeiro passo é, identificando sintomas, isolar os possíveis infectados. No fim de maio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já monitorava mais de cem casos em aproximadamente 20 países fora do continente africano, onde a variante era rara, mas já circulava.
Nos anos 2000, um surto semelhante foi identificado nos Estados Unidos e foi possível controlá-lo sem a ocorrência de nenhum óbito.
A varíola do macaco é preocupante?
Crianças e gestantes podem ser especialmente vulneráveis à varíola do macaco, em especial se estiverem imunodeprimidas. Porém, a julgar pelos dados disponíveis, tudo indica que a doença não é preocupante, por ser menos infecciosa e ter um manejo mais fácil do que a covid-19, por exemplo (um paralelo do qual é difícil fugir).
Mas alguns elementos chamam a atenção. Ainda que, na maior parte dos casos, as infecções da variante da varíola sejam brandas, ponto para a imunização contra a varíola comum, não deixa de chamar a atenção o fato de chegar aos humanos outra doença vinda de animais.
“O maior contato do homem com o ambiente silvestre facilita a aquisição de zoonoses. Além disso, a aglomeração dos centros urbanos permite a disseminação rápida de doenças, mesmo as que têm baixa transmissibilidade, como a varíola dos macacos”, diz Ducroquet.
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Fonte: Agência Brasil EBC, ONU, Instituto Butantan, Ministério Saúde, Cadernos Saúde Pública, Universidade Estadual Maringá