A saúde intestinal e o câncer de mama são dois aspectos que as pessoas normalmente não relacionam, mas um estudo recente, feito por cientistas da Universidade da Virgínia (UVA), nos Estados Unidos, e publicado na revista Cancer Immunology Research, descobriu que há uma importante ligação entre eles.
De acordo com especialistas do centro de câncer e da escola de Medicina da instituição, um intestino não saudável — motivado por má alimentação, obesidade, uso prolongado de antibióticos ou outros fatores — pode alterar os mastócitos, que são células imunológicas do tecido mamário. Essa mudança facilita a propagação de tumores.
Com isso, aumentam as chances de que ocorra a metástase do câncer de mama, gerando riscos para as pessoas com a doença. A partir do momento em que o câncer se espalha, a mudança pode ser fatal para o indivíduo, em alguns casos.
Segundo a pesquisa, apenas 29% das mulheres com câncer de mama metastático sobrevivem cinco anos, número ainda menor nos homens (22%). Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam 18.032 mortes pela doença no Brasil, em 2020 — a maioria delas de mulheres (17.825).
Microbiota intestinal vs. câncer de mama
Também conhecida como flora intestinal, a microbiota é o conjunto de micro-organismos que habitam o trato gastrointestinal com a missão de manter a saúde da mucosa. Quando essa população sofre algum desequilíbrio, o comportamento e a função dos mastócitos são influenciados na presença de tumores.
Segundo a pesquisadora Melanie R. Rutkowski, a saúde intestinal debilitada levou ao acúmulo das células imunológicas na mama de um modelo de camundongo utilizado no estudo. E as mudanças continuaram após a formação de um tumor, tornando o tecido mamário um campo de lançamento das células cancerígenas para outras áreas.
A investigação descobriu, ainda, que os mastócitos acumulados aumentaram a quantidade de colágeno no tecido mamário, estimulando a disseminação precoce dos tumores. Porém, o bloqueio desse processo permitiu impedir ambos, reduzindo a migração da doença para os pulmões.
Ao comparar os resultados com amostras de pacientes com câncer de mama, os cientistas identificaram o mesmo processo. No entanto, eles ressaltaram ser preciso considerar os atributos funcionais dos mastócitos, a localização deles e a densidade do colágeno para definir a relação entre eles e a metástase.
Terapia personalizada
Médicos podem usar essas descobertas para direcionar melhor a relação entre microbiota intestinal e mastócitos, a fim de evitar que o câncer se repita e se espalhe. A pesquisa também auxiliará na criação de um tratamento personalizado para prevenir a metástase.
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“Nossa pesquisa sobre o eixo ‘intestino-mastócitos’ identificou possíveis pontos de intervenção que podem ser direcionados para uma abordagem personalizada à terapia. O objetivo final seria melhorar a sobrevida de pacientes diagnosticados com câncer de mama”, explicou Tzu-Yu Feng, que também participou do estudo.
O exame de microbioma intestinal é uma das alternativas para verificar se a população de bactérias está saudável, sendo solicitado quando há suspeita de disbiose (desequilíbrio da microbiota).
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Fonte: Science Daily, Instituto Nacional de Câncer