Em meio a um surto de coronavírus com 2,6 mil casos em todo o mundo, a China, país com maior número de infectados e provável origem da proliferação, surpreendeu com a rapidez da resposta ao problema. Em apenas 10 dias, o governo chinês construiu o Hospital Huoshenshan, dedicado ao tratamento de pacientes infectados pelo vírus.
Com 1 mil leitos e uma força-tarefa de 1,4 mil trabalhadores da área da saúde para atendimento, o complexo, construído em Wuhan, epicentro da contaminação, tem inauguração prevista para hoje (03). Um vídeo com os principais momentos do processo foi disponibilizado pelo governo. Além dessa obra, está em construção um segundo hospital, o Leishenshan, com previsão de 1,6 mil leitos, cuja inauguração deverá ocorrer nesta quarta (05).
É possível ver a construção em tempo real no vídeo a seguir:
A China já tinha chamado atenção do mundo pela logística recorde; em 2003, durante a epidemia de Sars, o país construiu um hospital em apenas 7 dias.
A preocupação se justifica. Até o momento, já há mais de 300 mortes confirmadas em decorrência da contaminação com coronavírus, quase todas na China. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o quadro atual como um caso de emergência global, que, segundo a agência, é “um evento extraordinário que constitui um risco à saúde pública de outros Estados através da disseminação internacional da doença”. Outras enfermidades, como H1N1, ebola e zika, receberam a mesma classificação pela OMS.
A construção do centro hospitalar causou impacto positivo pela capacidade de infraestrutura e de mobilização de recursos, sobretudo em um país com enorme concentração populacional e, portanto, com maior risco de uma pandemia. Além dos aspectos epidemiológicos envolvidos, trata-se de uma questão política: há uma evidente tentativa do governo chinês em credenciar o país com uma imagem positiva no exterior, em termos de segurança e estabilidade, fundamentais para a consolidação da China no mundo dos negócios.
Como entender que em tão pouco tempo o país tenha migrado sua expertise em produção de artefatos de baixa qualidade em grande escala para uma potência mundial? Essa foi, em parte, a questão que a antropóloga brasileira Rosana Pinheiro-Machado respondeu em sua tese de doutoramento.
Segundo ela, ambas as faces da China correspondem a um mesmo projeto nacional de inserção na economia mundial: o país usou a abundância de mão de obra para combinar estratégias de crescimento econômico, através de uma balança comercial próspera, com um planejamento de longo prazo em ciência e tecnologia de ponta. A construção dos hospitais de Huoshenshan e de Leishenshan se inserem nessa corrida tecnológica.
Fonte: Saúde Estadão.