Foram divulgados os dados científicos que levaram o governo norte-americano a recomendar o uso do remdesivir para o tratamento de pacientes com covid-19.
O antiviral é uma das principais apostas do governo para o combate à doença. No entanto, os pesquisadores responsáveis pelos testes alertam que o medicamento sozinho não é suficiente para o tratamento.
O estudo foi conduzido pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) e publicado no New England Journal of Medicine. Os testes com remdesivir intravenoso foram conduzidos, de forma randomizada, em 1.063 pacientes com comprometimento do trato respiratório.
Os resultados preliminares mostram que é possível diminuir o tempo de tratamento de 15 para 11 dias, o que seria de grande ajuda para as emergências hospitalares. Também foi observado um menor percentual de mortalidade nos que foram tratados com remdesivir (7,1%) em relação aos que receberam o placebo (11,9%), mas essa diferença não foi considerada estatisticamente relevante.
Os pesquisadores afirmam que os resultados preliminares dão suporte ao uso do remdesivir para pacientes hospitalizados com covid-19 e que requerem oxigenoterapia suplementar. Contudo, também ressaltam que é preciso haver combinações com outros medicamentos para a melhor recuperação dos pacientes.
“Devido à alta mortalidade apesar do uso de remdesivir, fica claro que não é provável que o tratamento com uma droga antiviral sozinha seja suficiente”, concluem os pesquisadores. “Estratégias futuras devem avaliar agentes antivirais em combinação com outras abordagens terapêuticas ou combinação de agentes antivirais para continuar a melhorar os resultados dos pacientes com covid-19.”
A NIAID anunciou que começou um teste comparando os resultados do remdesivir sozinho e do remdesivir combinado com o medicamento anti-inflamatório baricitinib, usado para tratar artrite reumatoide.
Sobre o antiviral
O remdesivir foi criado pela empresa farmacêutica Gilead originalmente para combater o ebola, mas não obteve sucesso. Baseado nos dados divulgados publicamente, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados (FDA, na sigla em inglês) autorizou o uso do medicamento no país no dia 1° de maio.
Até então, a decisão tinha sido tomada com base no ensaio clínico, mas os dados ainda não haviam sido oficialmente publicados. A divulgação se deu após a cobrança de especialistas para que pudessem checar o estudo de forma detalhada.
O antiviral inibe enzima RNA polimerase, o que impede que o vírus replique o seu material genético. Isso foi observado nos testes em animais para a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Como ele é aplicado na veia, é necessário que o paciente vá até o hospital para receber o tratamento.
A fabricante liberou a patente para 127 países. Embora o Brasil não esteja nessa lista, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avisou que tem como garantir o acesso do antiviral à população.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o medicamento em uma investigação internacional cujo objetivo é encontrar o tratamento para a doença.
Efeitos adversos
Até agora, não há evidências de excesso de efeitos colaterais nos testes realizados. O remdesivir, inclusive, parece mais seguro do que o placebo — 114 pacientes (21,1%) que tomaram o antiviral apresentaram reações adversas como insuficiência respiratória aguda e hipotensão, enquanto no grupo placebo o número com essas reações foi de 141 pacientes (27,0%).
Tendo em vista a dificuldade de realizar testes clínicos no período da pandemia, os pesquisadores ressaltam que o estudo ainda está em andamento. De acordo com eles, os resultados preliminares tinham a intenção de ajudar a informar os médicos sobre o uso do medicamento. Os pesquisadores estão aguardando mais dados para atualizar o estudo com os novos resultados.
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Fontes: CNN, New England Journal of Medicine, BBC Brasil.