Como funciona o remdesivir, potencial remédio contra covid-19

28 de maio de 2020 5 mins. de leitura
substância foi autorizada provisoriamente pela FDA e deve ser liberada pela UE para tratamento da covid-19

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Remdesivir não é novo. O medicamento antiviral de aplicação intravenosa foi desenvolvido para tratar o ebola, tendo sido testado em laboratório contra outros coronavírus que provocaram Sars e Mers, mas nunca chegou ao estágio de aprovação para esses usos.

Nos últimos meses, cientistas desesperados por opções para mitigar a pandemia do novo coronavírus estão pesquisando remédios antigos que poderiam ser aproveitados. Essa medicação seguiu um caminho sem precedentes para a aprovação regulatória, tornando-se uma das terapias mais promissoras contra a covid-19 até o momento.

Recentemente, a Agência de Medicina Europeia (EMA) anunciou que pode recomendar, de forma provisória, a utilização do remdesivir para o tratamento das infecções graves provocadas pelo Sars-CoV-2. O anúncio aumentou as atenções sobre o medicamento, que também teve autorização temporária da Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e do governo do Japão.

Como funciona o remdesivir contra a covid-19

O remdesivir não é uma vacina, portanto não pode prevenir a infecção. O remédio combate o vírus quando este já se espalhou no corpo. Para entender como a droga funciona, primeiro é importante saber como o coronavírus infecta o organismo humano.

A primeira missão do vírus dentro do hospedeiro é entrar em uma célula saudável para se multiplicar dentro do organismo. Para invadir, o Sars-CoV-2 utiliza uma camada de proteínas pontiagudas que permite a ligação como as células. Uma vez dentro, ele se funde com a estrutura celular e libera uma cadeia RNA.

Os ribossomos da célula hospedeira passam a produzir partes do material viral, como RNA, membrana e proteínas da coroa. À medida que essas partes se unem, reproduzem-se até preencherem a célula com novos vírus completos. Depois de montado, o coronavírus sai da célula hospedeira e passa a infectar outras estruturas celulares.

Atuação do remédio

Remdesivir se incorpora ao material genético do coronavírus para impedir a replicação. (Fonte: Shutterstock)

O remdesivir é basicamente uma versão alterada do componente natural da adenosina, o nucleosídeo essencial para a construção do RNA do coronavírus. Pequenas diferenças na estrutura química desses análogos dos compostos naturais os tornam eficazes como drogas.

A forma ativa do medicamento contém três grupos fosfato, o que permite que o medicamento seja reconhecido e incorporado pela enzima RNA polimerase do vírus. Uma vez incorporado no material genético viral, o remédio distorce o formato da cadeia genética, encerrando a produção da cadeia de RNA e sabotando a replicação do vírus.

Os coronavírus têm uma enzima especial que reconhece nucleosídeos não naturais e os prende. Para enganar o vírus, os químicos substituíram o nitrogênio por outro carbono, criando uma ligação carbono-carbono. Dessa forma, a substância não pode ser removida pela enzima, permitindo que permaneça na cadeia crescente e bloqueie a replicação.

Com o material genético incompleto, o vírus se torna incapaz de produzir partes virais importantes. Impedido pela droga, todo o processo de replicação diminui e menos vírus são montados, pois vírus defeituosos com RNA parcial não podem se replicar em outras células.

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Contraindicações e efeitos colaterais

Os dados clínicos disponíveis para o remdesivir são limitados. O FDA alerta que o medicamento pode causar eventos sérios e inesperados não relatados anteriormente; entre as reações já constatadas estão hipotensão, náusea, vômito, diaforese e tremores. Em estudos com o remédio foram observadas reações adversas relacionadas a infusão e elevação das transaminases hepáticas. O medicamento não deve ser utilizado em pacientes hipersensíveis a qualquer ingrediente.

Liberação de patente

Patente do remdesivir foi liberada para 127 países, mas Brasil ficou de fora. (Fonte: Shutterstock)

Recentemente, a Gilead Sciences, fabricante do medicamento, forneceu evidências de que a droga havia ajudado pacientes com covid-19. Um teste clínico do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos EUA realizado com pouco mais de mil pacientes mostrou que o remédio diminuiu o número de diárias hospitalares em 31%, cerca de quatro dias, se comparado com um placebo. Especialistas criticam o resultado, pois, além de mostrarem benefícios limitados, não foram realizados estudos controlados amplos sobre os efeitos do medicamento.

A empresa liberou a patente da substância para 127 países fabricarem genéricos e combaterem a pandemia do coronavírus. O Brasil ficou de fora da lista, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma ter mecanismos, como anuência de uso em programa assistencial e priorização de registro, para garantir o acesso rápido do medicamento à população.

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Fonte: FDA, Reuters, Anvisa, Agência Brasil, Time, EMA, NIH e The Conversation.

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