As epidemias devem ser recorrentes, por isso a área de saúde deve se preparar para identificar e controlar novas doenças no futuro. As mudanças climáticas e a urbanização provavelmente aumentarão a frequência e a intensidade dos surtos, segundo Soumya Swaminathan, cientista-chefe e diretora-executiva da Organização Mundial da Saúde (OMS), em entrevista ao Estadão.
O comportamento humano influencia diretamente o aumento de surtos epidêmicos. O desmatamento para uso agrícola ou expansão urbana, com a consequente redução do habitat de animais silvestres, contribui diretamente para uma maior possibilidade de infecções zoonóticas em seres humanos, de acordo com um estudo da Universidade de Stanford.
Animais e humanos estão vivendo mais próximos, como alerta a executiva da OMS. Vários vírus conhecidos, incluindo o novo coronavírus, estão circulando em animais e ainda não infectaram humanos, segundo Swaminathan.
Saúde e população devem se preparar
Com o surgimento da pandemia de covid-19, as medidas de saúde pública e sociais precisaram ser ajustadas em todo o mundo, conforme orientações da OMS. “Todas as pessoas têm papéis-chave na prevenção de um ressurgimento nos números de casos”, alertou a diretora-executiva da organização.
Swaminathan avalia que as populações precisam estar totalmente engajadas e entender que a transição das restrições de movimento em larga escala e das medidas de saúde pública, detecção e tratamento de casos graves e detecção e isolamento de todos os casos é um “novo normal”.
“Embora não se saiba como a pandemia continuará evoluindo, com base nas evidências atuais, o cenário mais plausível pode envolver ondas epidêmicas recorrentes, intercaladas com períodos de transmissão de baixo nível”, explicou a cientista.
Pesquisa de vacinas e tratamentos
Uma cooperação global nunca vista está sendo realizada em busca de imunizações e tratamentos contra a covid-19; em todo o mundo, mais de 120 vacinas estão sendo desenvolvidas. Oito dessas pesquisas e várias terapias já estão em fase de testes clínicos com seres humanos.
O mundo estará preparado para enfrentar futuras pandemias quando os direitos humanos estiverem assegurados para todos, defende a cientista chefe da OMS. Uma resolução adotada por consenso na última Assembleia Mundial de Saúde decidiu quebrar todas as barreiras ao acesso universal a vacinas, diagnósticos e terapêuticas, para que haja uma distribuição justa das ferramentas essenciais de saúde para combater a pandemia do novo coronavírus.
“Todas essas iniciativas são um forte sinal da solidariedade que defendemos e de que todos precisamos e são o nosso farol de esperança para o futuro, a maneira como cuidamos de nossos cidadãos e a maneira como trabalhamos juntos para resolver nossos problemas através de colaboração e confiança”, reforçou Swaminathan.
Pandemia na América Latina
O aumento do número de casos em vários países da América Central e da América do Sul preocupa a OMS. Brasil, México, Colômbia, Chile, Peru e Equador estão apresentando crescimento exponencial de disseminação do coronavírus, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
A pandemia atual pode ter um impacto negativo maior sobre os pobres e os povos indígenas das Américas. “Na bacia amazônica, entre aldeias isoladas de grupos indígenas e cidades densamente povoadas, como Manaus, Iquitos (Peru) e Letícia (Colômbia), a incidência de covid-19 é duas vezes maior do que em outras províncias dos mesmos países”, explicou Swaminathan.
Brasil: epicentro mundial da crise
O Brasil se tornou o epicentro mundial da pandemia. Diariamente, o País é responsável por aproximadamente um quarto dos novos casos confirmados e dos óbitos provocados pelo novo coronavírus, com a covid-19 migrando para zonas mais pobres do território nacional. A diretora-executiva da OMS observa que as comunidades vulneráveis das grandes cidades também são duramente atingidas pela pandemia, onde as más condições sociais e econômicas fornecem um terreno fértil para a doença.
A falta de coordenação política no combate ao surto pode ser devastadora. “Independentemente da eficácia do sistema de saúde, o que é realmente crucial é que haja coerência, coesão e uma abordagem entre partidos, todo o governo e toda a sociedade, especialmente em grandes estados federados onde as comunidades precisam ouvir uma mensagem e uma liderança consistentes em todos os níveis”, comentou a cientista.
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Fonte: Estadão, Medical News Today e Universidade de Hopkins.