Uma nova vacina recentemente descoberta pode representar um grande avanço no tratamento de um grave tipo de câncer cerebral. Classificado como tumor de grau IV, o glioblastoma, também chamado de glioblastoma multiforme, é o mais agressivo dos cânceres cerebrais primários, que são aqueles que se iniciam nas células do cérebro. Os demais tipos do grupo são astrocitoma, oligodendroglioma e oligodendroglioma anaplásico, cujos graus são, respectivamente, I, II e III.
De acordo com um estudo publicado no Journal of the American Medical Association Oncology (JAMA Oncology), o novo imunizante pode prolongar a vida de pacientes — período que, em geral, após o diagnóstico da doença, é de 12 meses a 18 meses. Durante oito anos, foram acompanhadas 331 pessoas com glioblastoma, das quais 232 receberam o DCVax-L e 99 receberam apenas o placebo.
Os resultados do ensaio clínico, que foi desenvolvido de forma global e multicêntrica, abrangendo 94 locais em quatro países, mostraram que quem tinha sido recém-diagnosticado com a doença viveu, em média, 19 meses após a administração da vacina. A sobrevida dos participantes que receberam o placebo foi de 16 meses. No caso dos pacientes com glioblastoma recorrente, o período foi de 13,2 meses, contra 7,8 meses.
No cômputo geral, o estudo também registrou dados favoráveis: 15,7% dos participantes viveram mais dois anos depois do diagnóstico e 13%, cinco anos ou mais. Sem a vacina, os índices foram de 9,9% e 5,7% para esses períodos. Foi registrada, ainda, sobrevida superior a sete anos em dois pacientes. Todos já tinham passado pelo tratamento padrão, que consiste em cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
Como funciona a vacina?
A vacina é a primeira desenvolvida para câncer no cérebro. Para pacientes com a doença recém-diagnosticada, nenhum novo tratamento surgiu nos últimos 17 anos, prazo que se amplia, no caso do glioblastoma recorrente, para 27 anos sem novas opções clínicas.
Segundo os pesquisadores, o imunizante funciona como uma imunoterapia. O sistema imunológico do paciente é estimulado a combater o tumor por meio da combinação de proteínas do próprio tumor com glóbulos brancos, que passam a reconhecê-lo e auxiliam para que ocorra esse “ataque”.
A empresa fabricante é a NorthWest Biotherapeutics, dos Estados Unidos, que pretende solicitar a aprovação regulatória da vacina, já que a imunização ainda não está disponível.
Quais são as causas e os sintomas do glioblastoma?
Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil registra 11 mil novos casos de câncer cerebral anualmente, ocupando o décimo lugar entre os diversos tipos da doença. Fatores hereditários e externos podem aumentar o risco de se desenvolver a condição, mas as causas ainda não são inteiramente conhecidas.
Esses cânceres no cérebro podem ser primários, com a mutação de células se originando no próprio órgão, ou secundários, quando as células anormais advêm de outro local do organismo, a exemplo de pulmões, intestino e mama.
Acredita-se que o glioblastoma, que pertence ao primeiro grupo e é assim denominado por surgir nas células da glia (protetoras dos neurônios), pode ter como fatores desencadeantes a exposição a radiação, inclusive radioterapia, além de anomalias genéticas, consumo de álcool e infecções por vírus, como o HHV-6, que pertence à família dos herpesvírus humanos.
Os principais sintomas, que podem variar conforme a localização do tumor, são dores de cabeça frequentes, visão dupla ou embaçada, convulsões, déficit de memória, alterações de humor ou personalidade, náusea, vômito, dificuldade para falar, entre outros. O diagnóstico é feito por neurologistas ou oncologistas a partir de exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética e biópsia da lesão.
O glioblastoma não tem cura, mas, com o tratamento adequado, o paciente pode ter qualidade de vida. E a ciência pode oferecer alternativas, como a vacina, para aumentar a expectativa de vida.
Fonte: Oncoguia, Tua Saúde, Journal of the American Medical Association Oncology, SBCO