Um novo estudo produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) indica que a ultrassonografia pulmonar pode ser uma grande aliada no combate aos casos graves de covid-19 no Brasil. Segundo o documento, o exame de imagem seria eficaz na predição da evolução clínica de pacientes em estado grave da doença causada pelo vírus Sars-CoV-2.
Atualmente, o ultrassom é um método simples para diagnosticar doenças pulmonares, mas poderia ter seu uso estendido. De acordo com a pesquisa coordenada pelo médico Heraldo Possolo de Souza, pacientes com piores avaliações na ecografia estão predispostos a maiores riscos de internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), entubação e morte por covid-19.
Uso do ultrassom na pandemia
Por meio dos exames de imagem, o grupo de pesquisadores analisou 12 partes diferentes dos pulmões de 180 pacientes infectados pelo coronavírus que estavam internados no Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. Posteriormente, cada enfermo recebia um escore baseado em sua avaliação médica.
Durante a bateria de exames, os cientistas chegaram à conclusão de que pacientes com as maiores notas estavam mais expostos à evolução para quadros graves da doença. O estudo foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e publicado no periódico Annals of Intensive Care.
Escore dos pacientes
O artigo produzido pela FMUSP utilizou o chamado protocolo LUS para calcular a pontuação obtida por um paciente na ultrassonografia de pulmão, que consiste em analisar as áreas anteriores, laterais e posteriores dos dois lados dos pulmões e oferecer um escore final de 0 a 36 pontos para cada enfermo — sendo o primeiro um pulmão saudável e o último um órgão com alto nível de comprometimento.
Para a elaboração das notas, o estudo optou por combinar a soma da avaliação de cada região específica do pulmão observada pelos cientistas, que variava de zero a três pontos.
Grupos de risco
Estiveram qualificados para participar do experimento pacientes que testaram positivo pelo método de coleta de amostra nasal RT-PCR e que foram admitidos no pronto-socorro da clínica médica do HC entre março e maio de 2020, quando a pandemia começou no Brasil.
O cálculo da pontuação dos 180 voluntários foi feito no exato dia em que entraram no serviço de emergência. Segundo a FMUSP, a idade média dos participantes era de 60 anos e 58% deles eram homens. Nesses casos, os seguintes grupos eram os que despertavam mais atenção:
- entre 14 e 16 pontos (maior chance de internação em UTI);
- entre 20 e 36 pontos (maior risco de óbito).
Resultados finais
A pontuação média dos 180 pacientes estudados pela FMUSP ficou em 18,7. De todos os participantes, 56% acabaram necessitando de um leito de UTI, 39% foram entubados e 33% faleceram durante as pesquisas. Na visão de Heraldo de Souza, os dados mostram como o ultrassom pulmonar pode trabalhar como uma nova metodologia de análise de casos da covid-19.
“Vimos que a ultrassonografia pulmonar é um bom preditor da necessidade de internação em UTI, entubação endotraqueal e de morte de pacientes com covid-19 admitidos no serviço de emergência. Pode ser um método simples e barato para fazer prognóstico de infectados pelo vírus”, disse em declaração oficial.
Souza ainda ressaltou que o Brasil, assim como outros países, passou por graves problemas no início da pandemia por ter que lidar com a sobrecarga de pacientes e recursos escassos para atendê-los, mas que acredita na aparição de métodos simples como a ecografia para que o País consiga alocar corretamente seus recursos destinados à saúde.
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Fonte: Medicina S/A, FM-USP.