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Coronavírus: remédios sem eficácia comprovada devem ser banidos

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A hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e colchicina, medicamentos conhecidos como kit covid, não têm eficácia comprovada cientificamente, seja na prevenção, seja no tratamento do coronavírus. 

Em nota oficial, a Associação Médica Brasileira (AMB) orienta que os remédios devem ser banidos das receitas médicas e não podem ser consumidos por conta própria pelas pessoas.

A ineficácia desses medicamentos já foi comprovada em estudos científicos. Em maio de 2020, a Universidade de Campinas (Unicamp) publicou uma nota oficial no site afirmando que pesquisas apontaram para a insegurança dos pacientes que utilizaram os medicamentos no tratamento.

O professor Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química da Unicamp, afirmou no release oficial que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, mesmo combinadas à azitromicina, não demonstrou resultados eficientes no tratamento de pacientes de baixo ou grave riscos com covid-19. Nos casos mais alarmantes, que envolvem pacientes na UTI, o professor também apontou que a combinação e a administração individual dos medicamentos do kit covid não apresentaram resultados positivos.

Professor do Instituto de Química da Unicamp afirma que o kit covid não é eficaz contra a doença. (Fonte: Antonio Scarpinetti/Unicamp)

“Vários ensaios realizados e publicados em periódicos conceituados na área médica e ensaios clínicos realizados em vários países já mostraram que a combinação de hidroxicloroquina com azitromicina ou cloroquina e azitromicina, ou a cloroquina e hidroxicloroquina sozinhas não têm nenhum benefício para pacientes em UTI”, disse Dias.

Efeitos colaterais

Medicamentos sem eficácia comprovada podem causar efeitos colaterais graves. (Fonte: Freepik)

Segundo Dias, os medicamentos geram riscos de efeitos colaterais, como a arritmia cardíaca, mesmo em pacientes de baixa gravidade. Ao Estadão, médicos afirmam que o uso do kit covid fez com que cinco pacientes precisassem entrar na fila de transplante de fígado por conta dos efeitos colaterais dos medicamentos.

Outros casos de pacientes que utilizaram essas substâncias estão sendo investigados pelos médicos por conta de reações variadas, como hemorragias, arritmias e insuficiência renal. Os profissionais da saúde ouvidos também afirmam que há um aumento na procura de atendimento médico por pessoas que estavam sentindo os efeitos dos remédios.

De acordo com o chefe de transplantes de órgãos abdominais do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), Luiz Carneiro D’Albuquerque, os exames no fígado de um paciente revelou lesões nos dutos biliares, por onde passa a bile, uma substância importante do processo digestivo eliminada no intestino.

Segundo o especialista, sem os dutos, substâncias tóxicas vão direto para a corrente sanguínea causando infecções graves. Para ele, as lesões são causadas pelo uso de altas dosagens de mais de um medicamento, fazendo as células atacar umas às outras, causando fibrose e danos aos dutos.

Os médicos ouvidos pelo Estadão afirmaram que já há casos de mortes no HC-USP por conta de problemas no fígado relacionados ao uso indevido de medicamentos do kit covid, além de pacientes que antes eram totalmente saudáveis, mas acabaram na fila de transplante por conta dos remédios sem eficácia comprovada.

Kit covid-19

Mesmo com estudos comprovando a ineficácia da cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e outros remédios do kit covid, alguns médicos ainda estão prescrevendo essas substâncias para pacientes com covid-19 ou, até mesmo, para pessoas saudáveis.

Além dos profissionais da saúde, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já vem fazendo propaganda do kit covid desde o ano passado. Mesmo com anúncios oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendando que as pessoas não utilizem os medicamentos por conta da falta de comprovação da eficácia, o presidente continuou fazendo anúncios para o consumo do kit covid.

No dia 24 de março, Bolsonaro anunciou a formação de um comitê para coordenar ações contra o coronavírus no Brasil. Durante a reunião, ele defendeu a vacinação de toda a população e insistiu no uso dos medicamentos do kit covid para um “tratamento precoce”, quando a pessoa não tem a doença, mas consome os remédios de forma preventiva.

A Associação Médica Brasileira orienta que os medicamentos não têm eficácia comprovada e, por isso, não podem ser consumidos. A indicação é que as pessoas continuem usando máscaras de proteção, álcool em gel e sigam as regras de isolamento social para evitar contaminações.

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Fonte: Associação Médica Brasileira, Estadão, AMB, Unicamp.

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