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Cerca de dois meses antes de os primeiros casos de covid-19 surgirem em Wuhan, na China, o vírus Sars-CoV-2 já estava circulando sem ser detectado. Isso é o que revela um estudo realizado pela Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em conjunto com a Universidade do Arizona.
Isso significa que desde outubro de 2019, o vírus já estava infectando as pessoas sem ser identificado no país. Contudo, a pesquisa afirma que o número médio de pessoas contaminadas até 4 de novembro de 2019 era inferior a um. Esse índice subiu para nove em 1° de dezembro daquele ano, sendo que as primeiras internações em Wuhan ocorreram em meados de dezembro.
As primeiras contaminações pelo vírus foram associadas a um mercado de peixes em Huanan, mas o estudo indica que é muito provável isso não ter ocorrido, pois os primeiros casos de covid-19 detectados não tinham relação nenhuma com o estabelecimento.
Para descobrir quando surgiu o primeiro caso de Sars-CoV-2, os pesquisadores utilizaram análises do relógio molecular — termo para denominar a técnica em que se usa uma taxa de mutação de genes para deduzir quando o ancestral comum do vírus surgiu.
Segundo o PhD e professor Michael Worobey, de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade do Arizona, o primeiro caso real de covid-19 pode ter ocorrido dias, semanas ou muitos meses antes do ancestral comum estimado na pesquisa. A declaração foi feita em um release oficial da Universidade da Califórnia.
Outras descobertas
Além de conseguir estimar que o coronavírus estava em circulação dois meses antes do primeiro caso ser detectado, os pesquisadores descobriram que o vírus mutante morre naturalmente antes de causar uma pandemia, em cerca de três quartos das vezes.
Algumas ferramentas analíticas foram utilizadas para modelar como o vírus se comportou durante os primeiros dias de pandemia. Também foram feitas simulações de epidemias com base na biologia do vírus, levando em consideração os índices de transmissão, por exemplo.
Em apenas 29% das simulações, o Sars-CoV-2 foi capaz de criar epidemias, sendo que, nos outros 70%, houve infecção em poucas pessoas antes de o vírus morrer. Segundo o PhD e professor Joel O. Wertheim, da Divisão de Doenças Infecciosas e Saúde Pública Global da Universidade da Califórnia, os cientistas costumam utilizar os diversos genes do vírus para entender em qual momento começou a se espalhar.
A professora assistente Niema Moshiri, do Departamento de Ciência da Computação e Engenharia da Universidade da Califórnia, disse em release oficial que o método garante resultados surpreendentes.
“Vimos que mais de dois terços das epidemias que tentamos simular foram extintas. Isso significa que, se pudéssemos voltar no tempo e repetir 2019 cem vezes, duas em três vezes, a covid-19 teria fracassado por conta própria sem deflagrar uma pandemia”, ela afirmou em notícia oficial da Universidade da Califórnia.
Para Wertheim, a pesquisa revelou que a doença estava circulando em níveis muito baixos até dezembro de 2019, por isso acredita ser difícil que infecções na Europa e nos Estados Unidos já estivessem ocorrendo. “Eu sou bastante cético em relação às alegações de covid-19 fora da China naquela época”, disse em release oficial.
Disseminação do vírus na Europa e nas Américas
Uma pesquisa feita pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) em maio de 2020 revelou que o vírus Sars-CoV-2 já estava circulando na Europa e nas Américas quatro semanas antes dos primeiros casos serem registrados. De acordo com o estudo, o vírus começou a se espalhar no Brasil em fevereiro, 20 dias antes do primeiro caso registrado.
Já na Europa, o vírus teria começado a se espalhar em janeiro na Itália e, em fevereiro, na Bélgica, na França, na Alemanha, na Holanda, na Espanha e no Reino Unido. De acordo com a Fiocruz, em fevereiro a doença começou a ser transmitida nos Estados Unidos, em Nova York.
Fonte: Science, Universidade da Califórnia, Fiocruz.