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Como construir um sistema de saúde sustentável no Brasil?

Na saúde pública, o Brasil tem um dos maiores sistemas do mundo, o que acarreta a complexidade de gerenciar uma rede tão grande e capilarizada. Afinal, todos os 210 milhões de brasileiros, em mais de 5 mil municípios, são contemplados de alguma maneira pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma gestão que nunca foi simples se tornou ainda mais desafiadora diante das questões políticas e econômicas vividas pelo País — que impactam diretamente a saúde pública.

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Enquanto isso, um quarto da população brasileira recorre aos serviços de saúde suplementar: são cerca de 47 milhões de usuários, além dos milhares de profissionais vinculados a essas empresas, que enfrentam seus próprios desafios. Os hospitais, laboratórios e médicos se queixam de receberem pouco, e os pacientes acreditam pagar caro por seus planos. Mesmo com reajustes acima da média — entre 7,3% e 17%, de 2019 para 2020, contra 2,4% de inflação —, quem trabalha com planos de saúde sabe que é difícil fechar a conta.

Esse cenário remete a algo que muitos especialistas em saúde, em todo o Brasil, se questionam constantemente: como solucionar isso e criar um sistema de saúde que seja sustentável?

A sustentabilidade é um desafio para saúde pública e privada no Brasil. (Fonte: Unsplash)

O que é um sistema de saúde sustentável?

O médico estadunidense Harvey Fineberg — conhecido por seu trabalho na Universidade de Harvard — traz uma visão muito clara e interessante sobre esse assunto, em um artigo publicado pelo The New England Journal of Medicine.

Em primeiro lugar, ele elenca o que um sistema de saúde precisa ter para ser bem-sucedido: pessoas saudáveis, um cuidado superior (isto é, um cuidado efetivo, seguro, centrado no paciente e eficiente) e justiça (um sistema que trata todos da mesma maneira e é justo também com os profissionais).

Contudo, para ser sustentável, esse sistema de saúde precisa de outros três atributos-chave: 1) ser acessível financeiramente para pacientes, empresas e governos; 2) ser bem aceito por quem faz parte dele, o que inclui pacientes e profissionais de saúde; 3) ser adaptável, já que as necessidades de saúde mudam constantemente e os sistemas precisam responder a mudanças demográficas, novas doenças e descobertas científicas, entre outras questões.

Um sistema de saúde sustentável é acessível, bem aceito e adaptável. (Fonte: Unsplash)

Caminhos para a sustentabilidade

Uma grande parcela dos gestores de saúde brasileiros está ciente dos problemas existentes — tanto na saúde pública quanto na privada —, e os princípios para a criação de um sistema mais sustentável são bastante claros, como foi exposto no item anterior. Mesmo assim, realizar mudanças substanciais no dia a dia dos serviços de saúde em todo o país é uma tarefa bastante complexa. Afinal, quais são as questões que devem ser resolvidas primeiramente?

Em um artigo de opinião publicado pelo portal Saúde Business, a médica e especialista em gestão de saúde Cátia Motta observa que os modelos de remuneração usados hoje em dia, principalmente na saúde privada/suplementar, tornam o sistema insustentável.

O modelo de conta aberta e de pagamento por serviço, em primeiro lugar, estimula um maior uso dos serviços de saúde. Além disso, os sistemas de saúde brasileiros trabalham com o conceito do mutualismo, em que os mais jovens pagam mais do que consomem e compensam os gastos maiores das pessoas de mais idade. Essa fórmula não se sustenta quando, por um lado, a população vive cada vez mais e, por outro, os jovens não cultivam bons hábitos de saúde. Tudo isso pressiona os sistemas.

Em vista disso, Motta defende um modelo de promoção da saúde e prevenção de doenças, baseado principalmente na disseminação de informação. Dessa forma, os serviços — como hospitais e pronto-socorros — seriam acionados apenas quando necessários. Além de diminuir a sobrecarga dos sistemas de saúde, isso contribuiria para a qualidade de vida da população de maneira geral.

A remuneração é um dos principais obstáculos para a sustentabilidade. (Fonte: Unsplash)

Um olhar mais amplo para a saúde

Hudson Pacífico da Silva, especialista em saúde pública da Universidade de Montréal, faz observações semelhantes às de Motta e ainda defende políticas públicas que enxerguem a saúde além dos serviços diretamente relacionados a ela.

Isso porque as condições de trabalho, moradia e educação influenciam as necessidades de saúde da população — e quanto os sistemas precisam trabalhar para atendê-las. Um exemplo claro disso é o saneamento básico, cuja ausência gera milhares de internações na rede hospitalar, que poderiam ser evitadas.

Além disso, Silva argumenta que as inovações tecnológicas, muitas vezes, oneram os sistemas de saúde sem que os benefícios também aumentem, na mesma proporção. Mais do que medicamentos e terapias de alto custo, é interessante pensar em novas estratégias que gerem benefícios sistêmicos, coletivos. Sendo assim, o autor defende o conceito de “inovação responsável”. Entre outras questões, a inovação responsável foca nas demandas da sociedade, inclui mais atores nos processos de desenvolvimento e antecipa possíveis problemas, como custos, ao longo da avaliação.

Baseando-se no conceito de inovação responsável, argumenta Silva, é possível criar “inovações de maior valor para a sociedade em termos de equidade e sustentabilidade do sistema de saúde”.

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Fontes: Cadernos de Saúde Pública e The New England Journal of Medicine.

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