O Ataque Isquêmico Transitório (AIT) é um derrame que dura apenas alguns minutos, quando o suprimento de sangue para parte do cérebro é brevemente bloqueado. Os sintomas da patologia são semelhantes ao de Acidente Vascular cerebral (AVC), mas não duram tanto tempo, por isso o AIT também é chamado de “pequeno AVC” ou “miniderrame”.
A isquemia transitória acontece antes de cerca de 15% de todos os AVCs, de acordo com a Associação Americana do Coração. Por isso, o evento pode ser considerado como um alerta para um futuro acidente vascular. Além disso, entre as pessoas que têm um “miniAVC”, cerca de um terço sofre de outro acidente vascular mais grave dentro de um ano, e um quarto do total acaba vindo a óbito nesse período.
O impacto neurológico de microisquemias individuais é amplamente desconhecido. Essa foi a motivação de cientistas da Universidade de Rice para realizar uma série de experimentos a fim de medir os impactos reais dessas lesões extremamente pequenas.
“Estamos interessados em saber não apenas como uma única microlesão alteraria a atividade neural, mas também cumulativamente.Nesse sentido, se o efeito de múltiplas microlesões que ocorrem em momentos diferentes seria mais forte ou fraco do que a soma dos indivíduos”, disse Lan Luan, professora assistente de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade de Rice em comunicado dessa instituição.
Fluxo de sangue no cérebro
Em cérebros saudáveis, a atividade neural local está fortemente correlacionada, espacial e temporalmente, às alterações subsequentes no fluxo sanguíneo cerebral, segundo pesquisadores em um artigo publicado na revista científica Science Advances.
“Acredita-se que essa estreita relação espacial e temporal entre a atividade neural e a hemodinâmica, conhecida como acoplamento neurovascular, esteja comprometida em um amplo espectro de doenças neurológicas e cerebrovasculares, incluindo a doença de Alzheimer, hipertensão e derrame”, escreveram os autores do estudo.
No entanto, alterações do acoplamento neurovascular durante a progressão e recuperação de isquemias transitórias permanecem em grande parte não estudadas. Por isso, os estudiosos decidiram registrar simultaneamente as atividades neurais e as hemodinâmicas em um modelo de AVC, para examinar se, quando e em que medida o fluxo sanguíneo cerebral se correlaciona com a atividade elétrica neural.
Consequências de um derrame
No AVC isquêmico, a redução do fluxo sanguíneo no cérebro induz uma série complexa de eventos fisiopatológicos que evoluem no tempo e no espaço. A visão clássica é que a falta de oxigênio em regiões do cérebro determina a resposta neural. Estudos de oclusão da artéria cerebral média em humanos e modelos animais estabeleceram o limiar isquêmico do fluxo de sangue no cérebro para danos neurais irreversíveis em períodos agudos.
A imagem in vivo em modelos animais mostrou que o bloqueio de fluxo sanguíneo induz comprometimento estrutural nos axônios, dendritos e espinhos, podendo ser reversível dependendo da velocidade de retorno do fluxo após a interrupção.
No entanto, a maioria dos estudos foi realizada em fases agudas, principalmente devido aos desafios de quantificar repetidamente várias atividades neurais e hemodinâmicas simultaneamente com resoluções espaço-temporais suficientes durante períodos crônicos. Até então, não havia entendimento sobre a interação entre o fluxo sanguíneo cerebral e a atividade neural se desenvolver ao longo de semanas, bem como é classificada espacialmente e organizada temporariamente pela lesão.
Mapeamento das lesões
Tanto o acoplamento neurovascular quanto a estreita relação espacial-temporal entre a atividade neural e a hemodinâmica são interrompidos nos estados cerebrais patológicos. Para entender a relação neurovascular alterada nos distúrbios cerebrais, os cientistas realizaram um mapeamento longitudinal e simultâneo da atividade neural e da hemodinâmica.
Para tanto, usaram uma plataforma neural multimodal em um modelo de AVC em camundongos. Com isso, conseguiram rastrear por um longo prazo a atividade neural intracortical e do fluxo sanguíneo nas mesmas regiões cerebrais.
Conclusão dos estudos
Os pesquisadores observaram uma diferença entre as atividades neurais e o fluxo sanguíneo maior imediatamente após ocorrerem acidentes vasculares cerebrais de pequena escala. A situação torna-se mais grave alguns dias depois, podendo variar de acordo com o nível de isquemia.
Conforme o estudo, os déficit neurais se estendem por mais regiões e tempo maior, enquanto a restauração do fluxo sanguíneo cerebral ocorre mais cedo e atinge um valor relativo mais alto. Pela pesquisa, também foi concluído que a isquemia mais grave leva a déficit neurais mais duradouros.
“Nossas descobertas revelam o impacto neurovascular dos miniderrames e informam a limitação das técnicas de neuroimagem que inferem a atividade neural a partir das respostas hemodinâmicas”, escreveram os estudiosos.
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Fontes: Universidade de Rice, Science Advances e Associação Americana do Coração.