Sintomas de coronavírus podem afetar o cérebro

25 de maio de 2020 5 mins. de leitura
Pesquisa realizada no Brasil aponta que vírus tem potencial de multiplicação nos neurônios, além de prejudicar a cognição

Um novo estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) encontrou uma relação entre casos de covid-19, distúrbios neurológicos e encefalites. Coordenada pelo professor Daniel Martins-de-Souza, a pesquisa indicou a capacidade de o novo coronavírus infectar neurônios humanos e, por meio deles, multiplicar-se.

De acordo com os cientistas, os distúrbios poderiam ser causados por um estresse gerado pela reação do sistema imunológico ao vírus, por um ataque direto do Sars-CoV-2 ao sistema nervoso ou até mesmo uma combinação dos dois fatores.

O documento estima que pelo menos 30% dos indivíduos contaminados pela doença apresentam algum comprometimento no cérebro. De acordo com um relatório publicado pelo British Medical Journal (BMJ), mialgia, cefaleia e fadiga foram apresentadas como sintomas recorrentes em quadros de covid-19, o que indicaria um comprometimento neurológico.

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Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto fez parte de uma força-tarefa da Unicamp que trabalhou durante um mês para obter os resultados. Para a próxima etapa, a equipe pretende avaliar a ação do coronavírus sobre as células da glia, estruturas que proporcionam o suporte e a nutrição necessários para o funcionamento correto dos neurônios.

O documento da Unicamp indica que a porta de entrada para o vírus causar problemas no sistema neurológico pode ser a mesma que invade o sistema respiratório: ECA-2 (enzima conversora de angiostensina 2), uma molécula que aparece em grande quantidade nos pulmões, no coração, fígado, nos rins, vasos sanguíneos e no cérebro. É pela ECA-2 que a proteína espícula, responsável pela entrada do vírus no organismo, encontra espaço para se replicar no corpo humano e começar a comprometer seu funcionamento.

Efeitos do coronavírus no cérebro

Cientistas estudam possibilidade de o Sars-CoV-2 causar inflamações no cérebro. (Fonte: Shutterstock)

Mesmo diante do trabalho desenvolvido pela Unicamp, as preocupações com os possíveis efeitos da covid-19 no cérebro humano não se iniciaram no Brasil. Nos Estados Unidos, duas publicações já alertaram para os reflexos que a doença começava a causar nos sistemas de saúde do mundo todo.

A revista médica New England Journal of Medicine publicou um artigo com destaque para o estudo de médicos franceses sobre 58 pacientes com coronavírus. Os resultados indicavam que metade dos enfermos apresentava alguma desorientação ou agitação, somada a exames de imagem que apontavam inflamações no cérebro.

Além disso, a Associação Médica Americana indicou, em sua revista, que 36% em 214 pacientes chineses observados por equipes médicas locais tiveram sintomas de comprometimento do sistema neurológico. Os casos mais comuns demonstravam perda de olfato, nevralgias, convulsões e derrames.

Entenda: o coronavírus pode se reativar em pacientes após a recuperação?

Apesar da baixa amostragem, existe a preocupação de que o novo coronavírus possa aumentar as chances de acidente vascular cerebral (AVC) em adultos jovens. Segundo cientistas do Mount Sinai Health System, em Nova York, cinco casos de AVC em pessoas com menos de 50 anos de idade infectadas pela covid-19 ocorreram nos EUA em 2020.

Os cientistas cogitam a possibilidade de o Sars-CoV-2 provocar o entupimento das artérias que irrigam o cérebro com uma inflamação sistêmica decorrente do mecanismo de resposta do organismo ao vírus. Com isso, o corpo liberaria um excesso de citocina (substâncias inflamatórias) em alguns indivíduos, agredindo a parede dos vasos sanguíneos e atrapalhando a circulação do sangue.

Exemplos em território brasileiro

Autópsia de brasileiros confirma presença de coronavírus no tecido cerebral. (Fonte: Shutterstock)

Quatro autópsias realizadas na Universidade de São Paulo (USP) detectaram a presença do novo coronavírus no tecido cerebral das vítimas. A equipe do patologista Paulo Saldiva utilizou o exame do tipo PCR, feito com uma enzima ultrarreativa, para identificar a presença do vírus. As análises demonstraram que o comprometimento neurológico, nesses casos, é responsável por agravar os quadros respiratórios, diminuindo ainda mais a chance de sobrevida em pacientes graves.

Coronavírus: estudo aponta quanto tempo o vírus permanece ativo em superfícies

Um estudo publicado no portal The Lancet expõe relatos recentes de síndrome de Guillain-Barré em pacientes com covid-19, uma condição inflamatória que foi observada por pesquisadores brasileiros em casos de zika e chikungunya. A síndrome ataca os nervos que comandam os músculos e, em casos graves, pode afetar a regulação respiratória.

Fontes: The Lancet, Pebmed.

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