[Conteúdo alterado em 14/01/2021]
Esta matéria foi publicada originalmente em 17/05/2020. Estudos posteriores não comprovaram a eficácia da substância contra a covid-19.
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Em abril de 2020, a ivermectina mostrou ter ação antiviral contra a covid-19 em testes in vitro realizados na Universidade de Melbourne (Austrália), o que deu esperança para autoridades sanitárias em todo o mundo. Contudo, a realidade em laboratório é diferente da ação do organismo humano.
Os próprios cientistas australianos alertaram que novos testes seriam necessários para definir a dosagem segura para o tratamento contra o coronavírus. O artigo publicado chegou a ser retirado do ar, pois as informações não tinham sido revisadas por outros especialistas.
Pesquisa sobre ivermectina
Para que o remédio tivesse algum efeito em um paciente infectado pelo Sars-Cov-2, a dose necessária para combater o vírus seria 50 vezes maior do que a máxima diária permitida. A quantidade de ivermectina que em teoria seria eficaz contra a covid-19 poderia se tornar tóxica para seres humanos, provocando tontura, vertigem, tremor, febre, dores abdominais e de cabeça, coceira e queda brusca na pressão sanguínea.
Autoridades mundiais estão preocupadas com o uso de medicamentos sem eficácia e alertam que ainda não existe um remédio com comprovação científica para o tratamento das infecções causadas pela covid-19. O abuso de algumas substâncias, como cloroquina, pode provocar efeitos colaterais graves nos pacientes, por isso as vacinas continuam sendo a principal esperança para conter a doença.
Testes com ivermectina não avançaram
Para ter a certeza da eficácia de uma droga, uma série de etapas precisa ser obedecida. Estudos que indicaram alguma ação da ivermectina contra a covid-19 foram pré-clínicos, realizados em laboratório, e não puderam indicar o mecanismo de atuação do remédio contra o coronavírus.
Mesmo sendo uma das soluções mais testadas na procura de uma terapia para a covid-19, novos estudos continuam sem poder comprovar a eficácia da ivermectina, sendo a maioria publicações sem revisão ou estudos com vieses metodológicos que impedem uma conclusão.
A confirmação e a utilização de uma nova substância só acontecem após pelo menos três fases de testes, o que inclui ensaios clínicos randomizados com um grande número de pacientes.
Os experimentos com a ivermectina não avançaram cientificamente, apesar de receberem uma grande atenção de políticos e da imprensa. Isso, inclusive, é um dos fatores que têm dificultado a aplicação de maiores testes.
O uso fora dos estudos clínicos na América Latina tem dificultado a vida dos pesquisadores, como alerta um artigo publicado na Nature. A popularidade do medicamento e a falta de acompanhamento médico dos efeitos colaterais tornam impossível a continuidade das pesquisas. É cada vez mais difícil coletar as evidências das quais as agências reguladoras precisam para identificar o real papel desse medicamento.
Ineficácia da ivermectina no combate à covid-19
Um estudo realizado em Barcelona (Espanha) a partir de dados médicos retroativos apontou que não houve diferença significativa nos desfechos clínicos ou microbiológicos entre os grupos que tomaram o remédio e os que não o receberam, incluindo melhora clínica e taxas de hospitalização e alta hospitalar após oito dias.
Nesse experimento, a administração da droga ocorreu com a dose segura de 200 microgramas por quilo, uma quantidade menor que a necessária para ação contra o vírus in vitro. Por questões de segurança, doses muito elevadas do remédio ainda não têm seu perfil de segurança avaliado em ensaios clínicos.
Tratamento com ivermectina não é recomendado
Em junho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a ivermectina de seus esforços para encontrar um tratamento contra a covid-19. A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e autoridades sanitárias da África do Sul e do México declararam publicamente que a ivermectina não é considerada um tratamento anticovid-19 devido à falta de dados científicos confiáveis.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestou contra o uso da substância. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também reforçou que o remédio não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e que seu uso não é recomendado.
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Fontes: Medical News Today, Monash University e Antiviral Research Magazine.