“A obesidade é um dos males da humanidade moderna”. Essa afirmação é da Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual estima que cerca de 2,3 bilhões de pessoas terão sobrepeso até 2025, o que corresponde a 700 milhões de obesos no mundo. Isso significa que os números de obesos vêm crescendo mundialmente.
No Brasil, o excesso de peso já atinge mais de 55% da população, e a obesidade chega a quase 20% — nos últimos 13 anos foi registrado um aumento de 67,8% nesses índices. Esses números acendem o sinal de alerta de órgãos da saúde que buscam medidas para conscientizar as pessoas a mudar hábitos alimentares e a repensar normas da indústria alimentícia.
Um dos motivos para tamanha preocupação é a certeza, cada vez maior, da relação entre obesidade e aumento do risco de câncer. A obesidade perde somente para o cigarro entre as maiores potenciais causas de câncer.
Segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), os tipos de câncer ligados ao excesso de peso e à obesidade são de:
- mama pós-menopausa;
- ovário;
- útero;
- próstata;
- cólon e reto;
- vesícula biliar;
- rim;
- fígado;
- estômago;
- pâncreas;
- tireoide.
Porém, agora existe um fator a mais para preocupação, segundo estudo da Harvard Medical School publicado em dezembro no periódico Cell. Ao analisar camundongos obesos, cientistas descobriram que o tumor consegue se desenvolver e crescer mais rápido quando utiliza a gordura como combustível. Enquanto isso, a célula T, usada no combate do tumor, fica enfraquecida e não consegue exercer seu papel.
Essa pode ser a “chave” que faltava para entender como o organismo de cada indivíduo trabalha no combate ao câncer e de que maneira a ciência pode atuar, de forma complementar, para impedir a doença.
Células cancerosas conseguem se reprogramar
O estudo observou que dentro do microambiente tumoral as células cancerosas passaram por uma transformação: elas reprogramaram seu metabolismo em resposta ao aumento da disponibilidade de gordura e aumentaram o consumo de energia.
Por outro lado, as células T, principais agentes da imunidade no combate às células cancerosas, perderam forças, “ficaram com fome”, não conseguiram se multiplicar nem conseguiram impedir que o tumor aumentasse de tamanho significativamente.
A pesquisa foi feita em camundongos, mas o que se viu pode servir de base para transformações futuras na Ciência, modificando as estratégias de combate ao câncer em pessoas obesas ou não.
“As imunoterapias contra o câncer estão causando um enorme impacto na vida dos pacientes, mas não beneficiam a todos”, disse a coautora do estudo, Arlene Sharpe, professora de Patologia Comparada no Harvard Medical School. Ela complementou afirmando: “agora sabemos que há um cabo de guerra metabólico entre as células T e as tumorais que mudam com a obesidade”.
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O papel dos ácidos graxos no combate ao câncer
O que mais chamou a atenção dos cientistas do estudo de Harvard foi o fato de as dietas ricas em gordura reduzirem a presença das células T no microambiente tumoral, mas não em outras partes do corpo.
Além disso, eles encontraram escassez de ácidos graxos livres essenciais, importante fonte combustível celular, embora o resto do corpo do animal obeso fosse rico em gorduras, como geralmente ocorre em indivíduos obesos. Na verdade, esses ácidos estavam diminuindo porque as células cancerígenas estavam se alimentando deles rapidamente.
Alguns estudos já relacionam a disponibilidade e a abundância de ácidos graxos à maior incidência de câncer. Para tentar entender o câncer de próstata, em 2019 cientistas australianos descobriram que os ácidos graxos alimentavam a biomassa do tumor.
Para chegar a esse resultado, amostras de tecido humano de pacientes com câncer de próstata foram coletadas e colocadas em camundongos. Depois de uma análise, os cientistas verificaram que a biomassa do tumor se alimentava dos ácidos graxos.
Foi então que eles interromperam o transporte de ácidos graxos e viram a formação do tumor diminuir, retardando a progressão do câncer.
Trabalho de combate ao câncer está longe do fim
As conquistas dos cientistas de Harvard foram celebradas pela comunidade científica, mas o trabalho está só começando. “Nosso estudo fornece um roteiro para explorar essa interação, o que pode nos ajudar a começar a pensar sobre imunoterapias contra o câncer e terapias combinadas de novas maneiras”, concluiu Sharpe.
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Fonte: Science Daily, Development Channel, Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade, USP, Anvisa e Science MAG.