Laboratório da Uece comprova poder medicinal de plantas do Nordeste

25 de junho de 2019 5 mins. de leitura
Pesquisadores do laboratório da Universidade Estadual do Ceará investigam as atividades medicinais de plantas como graviola, carnaúba, alfavaca e alecrim-do-sertão

É muito provável que você já tenho sido aconselhado por algum conhecido a utilizar infusão de plantas para tratar uma doença ou simplesmente para aliviar dores, mas ele nem sempre sabe explicar por que a receita caseira é capaz de fazer você melhorar ou de confirmar que ela tem mesmo essa função medicinal.

Foi a partir disso que os profissionais do Laboratório de Química de Produtos Naturais (LPN) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) decidiram pesquisar a atividade medicinal das plantas do semiárido nordestino, a fim de explicar cientificamente como elas atuam e, assim, comprovar (ou não) a sabedoria popular. Agora, vamos conhecer como o laboratório funciona, seus objetivos e suas principais descobertas até o momento.

O laboratório pesquisa plantas em prol da saúde

O Laboratório de Química de Produtos Naturais (LPN) se localiza no Campus do Itaperi, em Fortaleza, e seu principal objetivo é verificar de que modo plantas podem ser utilizadas na área da saúde. Os estudos são realizados por 20 pós-graduandos, sob a liderança da professora Selene Maia de Moraes, titular da Uece em cursos de graduação e nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Naturais, Biotecnologia e Ciências Veterinárias.

As pesquisas do laboratório já foram responsáveis por validar e identificar poderes medicinais em cerca de 50 plantas do semiárido na região Nordeste, com destaque para o estudo de extratos com propriedades anti-helmínticas (vermífugo), leishmanicida e antimicrobiana que já indicaram tratamentos para leishmaniose, câncer, doenças de pele, Alzheimer e outras. Em seguida, vamos conferir alguns dos principais estudos feitos no LPN da Uece.

A graviola contra o câncer e a leishmaniose

Pesquisas em todo o Brasil apontam que a folha de graviola pode ser utilizada para atacar o câncer. Como essa possibilidade também é estudada no LPN, a professora Selene Maia de Moraes deduziu que a citotoxicidade utilizada para matar as células cancerígenas poderia combater, também, a leishmaniose. “Além da atividade anticâncer já comprovada por diversos experimentos famosos, identificamos que serviu para as atividades contra a leishmaniose”, explica Selene.

E foi assim que os estudiosos do laboratório descobriram um produto preparado à base de graviola e fava-d’anta, natural do Cariri, capaz de salvar a vida de muitos cães no Hospital Veterinário da Uece. Mas a líder do laboratório alerta que o processo para realizar os testes em pessoas é muito mais demorado, uma vez que não depende apenas dos pesquisadores.

Protetor solar com cera de carnaúba

Outra descoberta feita no LPN foi quanto à eficácia da carnaúba contra raios solares. Entre pesquisas, os estudantes verificaram que a cera da planta possui substâncias capazes de proteger os seres humanos. “Aplicamos isso como protetor solar em pessoas. Utilizamos e realmente verificamos a ação para isso”, explica Selene.

O poder curativo da aroeira

Analisando as propriedades medicinais de três espécies de aroeira (Anacardiaceae), Ana Lívia Rodrigues (uma das colaboradoras do laboratório da Uece) descobriu que elas têm ação antioxidante, anti-inflamatória, cicatrizante e antimicrobiana. Tal conclusão foi possível após a especialista comparar os compostos fenólicos, fenóis e flavonóis encontrados tanto na folha quanto no caule das plantas.

Uso de plantas no combate à dengue

As pesquisas no laboratório não têm foco apenas no tratamento de doenças; elas também visam prevenir e combater possíveis causas de enfermidades. Um bom exemplo é o estudo de plantas como alfavaca, alecrim-do-sertão e alecrim-pimenta, que juntas conseguiram formar um produto eficaz no combate a larvas do Aedes aegypti. “São produtos naturais larvicidas. Essa utilização em larga escala ainda não foi feita, mas comprovamos a eficácia”, esclarece Selene.

Selene Maia de Moraes, líder do LPN há 21 anos, salienta a importância da comunidade para o andamento das pesquisas no laboratório. Ela explica que na Uece os pesquisadores se inspiram em informações coletadas da comunidade para elaborar seus projetos; assim, unem o conhecimento popular ao acadêmico.

A professora exemplifica essa cooperação resgatando o caso de uma pesquisa no território cearense: “A gente já fez, por exemplo, uma experiência com a sucupira. Populares colocam a semente dentro de uma garrafa de cachaça para tomar em uma ação para a garganta. Levamos para o laboratório e vimos que ela tem realmente essas propriedades”.

A sabedoria indígena também contribui com o andamento das pesquisas, pois, segundo a chefe do laboratório, os acadêmicos trocam conhecimentos com os índios Tapeba. “Já fizemos várias entrevistas com o pajé e as pessoas da comunidade indígena em geral. Eles nos deram várias informações para comprovação científica”, explica.

Isso demonstra como a Universidade e a comunidade podem se unir em prol da melhoria da saúde com o uso de plantas medicinais.

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Fontes: Mundo Intrigante, Drauzio Varella, Associação Médica Brasileira.

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