Como o Taiwan venceu a luta contra a covid-19

26 de outubro de 2020 5 mins. de leitura
Ilha asiática teve apenas sete mortes e 550 casos confirmados de infecções por coronavírus, com uso de controle de fronteiras e tecnologias

A abertura do Summit Saúde 2020 contou com a participação do embaixador de Taiwan no Brasil, Tsung-Che Chang, que relatou a experiência exitosa do país asiático no combate à pandemia de covid-19. O evento, que acontece de forma online e gratuita por conta das medidas de isolamento social, tem como tema “Os legados da pandemia”. 

A estratégia de Taiwan é considerada uma das melhores experiências de combate ao coronavírus no mundo. A ilha asiática, mesmo sem o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e bem próxima da China (local de origem do surto mundial), registrou apenas 550 casos de covid-19 e sete mortes pela doença em uma população de 23 milhões de pessoas.

Tsung-Che Chang destacou que o aprendizado adquirido durante o combate à pandemia do Sars em 2003 ajudou Taiwan a superar a atual crise, com leis atualizadas para o tratamento de doenças contagiosas, a preparação de hospitais, como a preparação de 1000 leitos com pressão de ar negativo. O país tem outras ações que podem ser realizadas em outros locais do mundo.

Velocidade, justiça e bom humor

(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)
(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

O embaixador taiwanês explicou que três conceitos transpassaram todas as ações realizadas no país para combate à pandemia: resposta rápida, justiça e bom humor (em inglês, Fast, Fair and Fun). 

Para Chang, esses conceitos aliados à inteligência coletiva, ou seja, colaboração do poder público e do setor privado, foram fundamentais para o bom resultado de Taiwan.

O diplomata ressaltou a importância do uso do humor para combater rumores e fake news, utilizando imagens simples para explicar as políticas de saúde. Ele citou o pânico pela compra de papel higiênico, que faltou no início da pandemia. 

A situação foi controlada em três dias após uma publicação engraçada que brincava com o apelido do primeiro-ministro Su Tseng-chang. A garantia de que toda a população tenha acesso a equipamentos de proteção pessoal também foi fundamental para o controle da doença. 

Em Taiwan, houve uma preocupação com a justiça social, de acordo com o embaixador. No país, foram ofertadas máscaras de baixo custo para garantir o acesso da população ao produto.

Controle da pandemia

(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)
(Fonte: Summit Saúde Brasil 2020/Reprodução)

Taiwan implantou um Centro de Controle Central de Epidemias no dia 20 de janeiro, para evitar a descoordenação de ações nacionais e locais. O órgão também tinha a função de dar transparência da informação, por meio de coletivas imprensas realizadas diariamente.

A segunda medida adotada foi a realização de um controle rígido da fronteira. A maioria dos casos confirmados no país, cerca de 500, foram importados, de acordo com Chang. 

Ao chegar no aeroporto, os passageiros passam por uma triagem para identificar os sintomas da doença. O transporte para casa ou hotel é realizado em ônibus ou táxis separados, com motoristas protegidos.

Acompanhamento de casos

O rastreamento dos casos confirmados ou suspeitos foi outra medida importante. Tanto de viajantes quanto pessoas da comunidade local que apresentarem sintomas da doença são levados a um isolamento de 14 dias, acompanhados por duas ligações diárias para verificar os possíveis sinais da doença e as necessidades pessoais.

Garantia de suprimentos

O país também se mobilizou para garantir o suprimento de insumos. O embaixador citou que a produção diária nacional de máscaras cirúrgicas pulou de 1,88 milhões para 16 milhões em apenas três meses. Com isso, Taiwan conseguiu abastecer o mercado doméstico e, inclusive, exportar o produto para outros países.

Uso da tecnologia

Por fim, a tecnologia digital foi fundamental para o controle da doença na ilha. O seguro nacional de saúde taiwanês foi lançado em 1995 e possui um banco de dados com informações de 99,9% da população nos últimos 25 anos, sendo utilizado para desenvolver estratégias de combate à covid-19.

As ferramentas tecnológicas também foram usadas para manter a população em casa. Um “cerco digital” foi montado usando o sinal de celular como parte de um sistema, que inclui a distribuição de kits de quarentena com alimentos e artigos de entretenimento, o pagamento de US$ 30 diários para quem cumprir o isolamento e uma multa de até US$ 30 mil para quem descumpre o isolamento.

Exemplo a ser seguido

A eficiência da estratégia de combate à covid-19 afetou positivamente a economia da ilha. Segundo o Banco Mundial, a projeção de crescimento do PIB taiwanês é de 1,5% em 2020, enquanto a China deve ter retração de 6,8%.

As medidas adotadas por Taiwan devem perdurar por um bom tempo e podem servir de exemplo para outros países, acredita Chang.

“Não vamos voltar para o normal anterior. Vamos voltar para o futuro normal, e a máscara vai ser uma companheira muito importante para toda a gente”, afirmou o embaixador.

O Summit Saúde 2020 continua até o dia 30. Amanhã (27/10), no primeiro painel do evento, serão abordados os Desafios da Saúde Suplementar, com a diretora-executiva Vera Valente, da FenaSaúde, e o superintendente-executivo José Cechin, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

O segundo painel do dia será mediado por Rita Lisauskas, blogueira do Estadão e colunista da Rádio Eldorado. O encontro tratará do tema “Incorporação de Tecnologias a Favor dos Pacientes”, com a participação do oncologista clínico Rafael Kaliks, do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor do Instituto Oncoguia, e o professor Daniel Wang, do curso de Direito na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As inscrições para o evento online continuam abertas e são gratuitas.

Fontes: Estadão Summit Saúde 2020.

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