Desinformação é responsável por queda na vacinação brasileira

12 de outubro de 2020 4 mins. de leitura
Falsa sensação de que doenças graves, como o sarampo, foram erradicadas tem agravado cenário brasileiro

Apesar de ser um dos países pioneiros na incorporação de vacinas gratuitas, disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil tem enfrentado sérios problemas com os índices nacionais de vacinação nos últimos anos.

O vírus do sarampo, que havia sido extinto do cenário nacional em 2016, reapareceu na realidade brasileira por meio da Venezuela. Enquanto a vacina tríplice viral, que protege contra a doença, alcançava 96% das crianças em 2015, em 2017 já protegia apenas 84% e abria espaço para uma epidemia de infecções.

Grande parcela da responsabilidade por esses acontecimentos tem relação com o aumento da desinformação no País. Mas, como é possível combater esse regresso? 

Os perigos da desinformação

Vacinação de crianças com até 1 ano de idade caiu em 23% em 2017, aponta Fapesp. (Fonte: Shutterstock)

Um dos motivos que podem ter levado o Brasil ao cenário atual de infecções é o seu próprio sucesso. Enquanto o Programa Nacional de Imunização (PNI) atingia boa parte da população décadas atrás, algumas doenças deixaram de estar presentes no mapeamento de saúde do País, causando uma falsa sensação de segurança na sociedade.

Muitos pais entre 30 e 50 anos, que viveram em uma realidade em que o sarampo e a poliomielite já não afetavam mais as crianças em grande escala, cresceram com a percepção de que a vacinação não compunha parte fundamental da imunização dos habitantes brasileiros. 

Consequentemente, seis das 17 vacinas ofertadas pelo SUS tiveram quedas bruscas nos percentuais de vacinação em 2017. 

Segundo o relatório feito pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), 23% das quase 3 milhões de crianças nascidas ou completando 1 ano nessa época não receberam a vacina contra poliomielite.

O mesmo vale para as vacinas contra o vírus da hepatite A e B, doenças que causam lesões no fígado, e de bactérias causadoras de meningite e tétano. Apenas a vacina BCG, que protege contra as formas graves de tuberculose, alcançou os 90% da taxa de recomendação aplicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mudanças no sistema de registro

Uma das mudanças que o Brasil vem tentando aplicar para mudar a realidade da vacinação no país é a alteração na metodologia de registro de informações do PNI. Antigamente, o registro era feito através das doses aplicadas, o que não facilitava o mapeamento adequado de zonas de risco.

Porém, nos últimos anos, o Ministério da Saúde tem começado a aplicar o registro nominal. Dessa forma, é possível identificar quais municípios, bairros ou faixas etárias têm falhado em cumprir os protocolos de vacinação e, assim, evitar novos surtos.

A transformação do sistema de informatização é um grande passo para melhorar o direcionamento das campanhas de vacinação. A partir do momento em que existem garantias para elevar a assertividade do PNI, é possível que o Brasil volte a ver um aumento nos números de vacinados.

Campanhas antivacinação

Sem controle sobre informação online, Teorias da Conspiração ganharam força na internet. (Fonte: Shutterstock)
Sem controle sobre informação online, Teorias da Conspiração ganharam força na internet. (Fonte: Shutterstock)

Com a facilidade de publicação de conteúdo, a internet encontra-se repleta de materiais mal intencionados. Segundo um levantamento feito pelo jornal britânico BBC, o algoritmo de plataformas online, como o YouTube, tem passado “veracidade” para conteúdos ilegítimos

Por exemplo, ao acessar um vídeo de campanha antivacina, o usuário já recebe recomendações para outras mídias de cunho similar.

Entre os 15 vídeos analisados pela agência de notícias, um deles chamava a atenção por ter mais de 825 mil visualizações. Apesar de eles não poderem ser monetizados, as atuais normas da plataforma não permitem a retirada do ar das chamadas “Teorias da Conspiração” — apenas dos conteúdos que exijam que seus espectadores abandonem as campanhas de vacinação.

A corrente de materiais inverídicos gerada pelo algoritmo do YouTube causa a impressão de que aquele conteúdo seja de confiança, o que pode ser um dos fatores que têm aumentado a disseminação de ideias equivocadas sobre a realidade do PNI no Brasil.

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Fontes: Fapesp, Conass, PUC-Rio, BBC.

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